segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O fogão de lenha

Eu tenho grandes e boas lembranças de minha infância. Acho que não existe melhor recordação que as experiências vividas nas pequenas cidades do interior, em tempo que hoje parece tão longe.

Uma das grandes lembranças que carrego é o fogão de lenha da mamãe. Ela era muito organizada nas tarefas de cada uma das filhas. Eu era encarregada de cuidar do jantar, que consistia numa sopa, acompanhada de pão de casa. A panela abrigava alimento para papai, mamãe e cinco filhos famintos.

Antes, porém, tinha que ir à cata de gravetos. Sorrio comigo mesma quando eu me lembro que nunca fui para debaixo de nossa casa, à beira do rio Timbuí, sem que voltasse com um monte de gravetos, feitos de tábuas cuidadosamente cortadas por mim, com um machado que pesava mais do que eu inteira. Nunca faltou estoque! Acho que os anjos vinham durante a noite e colocavam mais tábuas pra pequena Tata repetir o ritual no dia seguinte. E não duvido nada que eram eles que me davam força pra cortar as tábuas.


O fogão era grande, de cinco espaços para os alimentos. A receita da sopa era assim – nunca mais esqueci. Corte alho e cebola e coloque na panela, com um pouquinho de óleo. Quando começar a queimar, jogue água fervente (cheiro boooom). Enquanto isso vá cortando chuchu, cenoura e batatas em pedaços bem pequeninos. Coloque cuidadosamente no caldo. Quando estiverem quase cozidos, coloque então o macarrão. Se não tiver macarrão, corte pedaços de pão e faça de conta, porque o efeito é o mesmo. Se tiver sobra de feijão, faça um caldinho e acrescente na sopa. E se acontecer um milagre de ter sobra de alguma carne... a sopa ficará mais deliciosa ainda. Ainda ouço os estalos dos gravetos no fogão.


Eu demorava exata hora e meia pra fazer isso, todos os dias. Acabava exatamente às 18 horas, quando o rádio tocava a Ave-Maria e eu me debulhava em lágrimas de tanta emoção.


A melhor parte desta cozinha cheirosa, que eu amava profundamente, era o pequeno banco de madeira, no qual eu subia, para fazer a sopa.


Eu me sentia uma gigante do alto dos meus seis anos de idade!

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