quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A CORAGEM DE FAZER A DIFERENÇA

Uma pessoa só pode fazer alguma diferença em pleno caos?

As ações de uma única pessoa poderão modificar um sistema social vigente?

Quantas vezes utilizamos como desculpa a frase: De que adianta? Sou somente um na multidão...

Mas, uma mulher, durante a Segunda Guerra Mundial, pensou diferente, agiu e fez a diferença para nada menos de 2.500 vidas.

Pouco conhecida embora, é chamada de A Schindler feminina.

Irena Sendler arriscou sua vida para salvar outras vidas.

Enfermeira, tinha trânsito livre no gueto de Varsóvia, um quarteirão de 4 quilômetros quadrados, onde foram colocadas 500.000 pessoas.

Espalhando notícias, entre os nazistas, de que tifo e outras doenças contagiosas acometiam os confinados no gueto, ela planejou e colocou em prática arriscada estratégia.

Seu objetivo: salvar o maior número possível de crianças judias, retirando-as do gueto.

A parte mais difícil era convencer as mães a lhe entregarem os filhos.

Lamentos, choro, gritos. Mas, em caixas de ferramentas, sacolas, malas, cestos de lixo, sacas de batatas, por dentro do casaco, ela ajudou a retirar crianças do quarteirão.

Por ser idealista, o horror da guerra não lhe arrefeceu a esperança da primavera de paz.

E ela preservou em dois frascos, enterrados sob uma árvore, as identidades de cada uma das crianças: nome verdadeiro e para onde fora encaminhada.

Conseguiu adesão de mais de uma dezena de pessoas, através das quais conseguia documentação falsa para os pequenos.

Em 1943, ela foi presa e levada à prisão de Pawiak. A Gestapo desejava que ela confessasse o paradeiro das crianças: quantas seriam? Quem seriam? Onde estavam? Quem a havia auxiliado?

Irena teve quebrados seus pés e suas pernas e sofreu as mais vis torturas. A ninguém delatou e nada informou.

Condenada à morte, foi salva a caminho da execução por um oficial alemão, subornado pela Resistência.

As pernas fraturadas e as torturas sofridas tiveram como conseqüência a cadeira de rodas, que ela suportou sem reclamações nem queixas.

Manteve, até o final dos seus dias, a serenidade no olhar e o sorriso nos lábios.

Essa mulher corajosa desencarnou no dia 12 de maio de 2008. Foi indicada pelo governo polonês, com o apoio do governo de Israel, ao prêmio Nobel da Paz.

As vidas que salvou das garras do horror nazista e frutificaram em filhos e netos, não a esquecem.

Muitos a foram visitar, no pós-guerra.

Ela figura entre as 6.000 polonesas que ganharam o título de Justo entre as nações, concedido aos que trabalharam pelas vidas dos seus irmãos, nos negros dias da guerra vergonhosa.

Uma mulher que fez a diferença, com vontade e determinação.

Fez a diferença porque não ficou reclamando da situação em que mergulhara a Polônia, mas colocou mãos à obra e realizou a sua parte, acenando esperanças.

* * *

Pensemos nisso, reflitamos e verifiquemos se, nos dias que vivemos, a nossa voz, a nossa atitude, o nosso gesto não pode fazer a grande diferença entre a morte e a vida, entre o desespero e o cântico da esperança.

Pensemos...

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