quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Vitorioso

Se puderes transformar a lágrima de dor em fonte
de semeadura nos sulcos
do teu rosto e dela colher gotas de sabedoria;
estender a mão em gesto de acolhida
para suavizar a caminhada de alguém de quem nem sabes o nome;
evitar julgamentos quanto as atitudes dos que te
cercam fogem ao comum ou presumível.

Se puderes, em meio ao atropelo do dia,
parar para assistir o banho de um
pardal numa poça de água; transformar um dia
de chuva fria em ensolaradas
horas no teu interior; ouvir com carinho
as angústias que afligem um
amigo com a mesma paciência com
que gostarias que te ouvisse.

Se puderes acreditar que o instante ruim é só
um intervalo no relógio da vida;
rir de ti mesmo nas atrapalhações do cotidiano
e nos tropeços involuntários,
sem fazer drama maior do que possa ser;
respirar fundo para a mágoa que
venham a causar palavras mal colocadas e posturas inflexíveis.

Se puderes aceitar o diferente sem pensar
que és o denominador comum,
isento de anormalidades; fazer silêncio para
ouvir os conselhos que
a própria mente insiste em sussurrar; olhar para trás e arquivar
definitivamente o desalento das perdas para poder permitir os ganhos que se vislumbram.

Se puderes compartilhar as alegrias do próximo
com idêntica ventura com
que mergulhas nas tuas; esperar,
num exercício de aprendizado, sem perder
a confiança de que o bem chegará;
perder o medo de fracassar nas tarefas
que te são confiadas, lembrando sempre da tuas limitações.

Se puderes aceitar o desafio constante
das competições, deixando de lado
o subjetivo e encarando com firmeza o horizonte; deixar de cobrar dos outros e,
principalmente, de ti mesmo, comportamentos
presumíveis; compactuar com
o novo sem perder o bom senso e o equilíbrio,
que a evolução do progresso exige.

Se puderes ser generoso e multiplicar o
pouco que tens com muitos,
anulando o medo de ser lesado; adormecer com
preocupações e despertar
com lucidez, separando o joio do trigo;
buscar o sorriso da infância,
o olhar da criança e plasmá-los na face como trabalho de ourives;
permitir a transformação constante como se fosses um pedaço de barro nas mãos de um oleiro.

E, mais do que tudo, se puderes seguir as estrelas,
bússolas cintilantes,
em busca do que precisas para realizar os planos
que nasceram contigo...
Serás um vitorioso!

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