terça-feira, 6 de julho de 2010

A FELICIDADE

Francisco de Assis gostava muito de conversar com os
frades menores e naqueles sublimes momentos, eram colocados belos e
proveitosos ensinamentos. Quem não conhece a passagem em que frei Leão
pergunta ao pobrezinho de Assis, em que consiste a verdadeira alegria?
Após inúmeras considerações, ele mostrou o valor do esquecimento de
nós mesmos; que a verdadeira alegria consiste em, por amor ao Cristo,
enfrentarmos injúrias, injustiças, calúnias; que a cruz da tribulação
nos pertence e devemos carregá-la com dignidade e fé.

De certa feita, uma jovem, sonhando com a felicidade, orou a
Jesus pedindo para conversar com Francisco e, assim, um dia, o sonho
se realizou.

Muito emocionada, nem sabia por onde começar. Francisco
aproximou-se e disse:

- Irmã, queres me acompanhar num passeio?

- Como não, Pai Francisco, é o que mais desejo!

E assim os dois ganharam estrada. Quando varavam a cidade, vários
garotos, chamando o pobrezinho de Assis de louco, atiraram-lhe pedras
que,
quando o alcançavam, não o atingiam porque ele,
carinhosamente, as chamava de irmãs. Foram até o
Vale dos Leprosos, onde os dois banharam alguns
doentes e os alimentaram.

- Pai Francisco. . . - murmurou a irmã.

- Mas o que é mesmo que desejas, irmã?

Ela respondeu:

- Ser feliz. Procuro saber do senhor o que é a
felicidade.

- Mas a irmã cuidou tão bem dos doentes...

Notei que não relutaste em tratá-los ou banhá-los.

- Ah, Pai Francisco, desde pequena venho doando amor. Não
encontro dificuldade em abraçar e beijar as pessoas, sejam pobres,
feias, bonitas ou ricas. Sinto tanta felicidade nessa doação que às
vezes até esqueço de mim mesma.

Francisco nada dizia. Dali saindo, encontraram uma pobre mulher
que carregava uma criança nua que Francisco abraçou, não titubeando em
cortar um pedaço da sua roupa para dá-la à mãe que tentava proteger o
filho. Deslumbrada diante daquele gesto, a mulher olhou o pobrezinho
de Assis, que agora tinha as pernas de fora. Sorrindo, ele lhe falou:

- Minha roupa era muito comprida, agora me vejo mais livre, posso
caminhar melhor.
Assim os dois andaram muito, prestando ajuda aos que precisavam.
Já noite, Francisco se dirigiu para o morro Alvene, refugiando-se em
uma gruta, onde uma cama de pedra lhe recebeu o corpo magro, chagado.
A mulher, vendo-o ofegante, perguntou:

- Está sentindo alguma coisa, Pai Francisco?

Ele sacudiu a cabeça, dizendo:

- Sim, sinto-me imensamente feliz. Agora, filha, fala-me das tuas
tristezas.

- Pai, todos me julgam forte e em mim se apóiam mas eu gostaria
que alguma vez alguém de mim se lembrasse. Tento fazer os outros
felizes, mas sinto-me só e abandonada.

Francisco, que ouvia o lamento da mulher, quando esta terminou, disse-lhe:

- Procuras a felicidade, mas há felicidade maior que a de se doar
a todos os que de ti se aproximam? A irmã até hoje só serviu, e
felizes os que servem.

- Mas, Pai Francisco, e os meus sonhos?

- Continua sonhando, para que outros tenham felizes realidades.

Levantou-se, abraçou a sua ovelhinha e foi descendo o morro. A
irmã o chamou:

- Pai Francisco, eu amo você!

Ele respondeu:

- É nisto que consiste a felicidade. Feliz daquele que já aprendeu a amar.

E continuou descendo. Ela, mais uma vez o chamou.

- Pai Francisco, eu amo você!

- Feliz aquele que não se envergonha de dizer ao seu próximo o
quanto o ama.

E mais uma vez a mulher falou:

- Pai Francisco, eu adoro você!

- A felicidade está no amor e felizes são todos aqueles que sabem amar.

Francisco desapareceu, mas ali, no alto do morro, a mulher,
sozinha, olhou para o céu, divisando uma estrela longínqua, que apesar
de solitária, irradiava muita luz. E murmurou:

- Oh, sonho ! O que é você diante desta noite escura que me cerca?

Seus olhos orvalharam-se de lágrimas, mas logo a alegria invadiu
seu coração, pois no céu resplandeceram milhares de estrelas, que se
juntaram ao seu sonho por uma Terra repleta de felicidade.

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