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quinta-feira, 2 de abril de 2009

OS LIMITES DA CIÊNCIA

Após a falência das religiões tradicionais, devido ao (quase) fim da fé cega, a ciência passou a ocupar o lugar deixado por elas, embora dentro da mesma mística. Antes, só era verdade aquilo que fosse admitido pelas religiões; depois, só é verdade o que é sancionado pela ciência. E como a ciência, digamos ortodoxa, tem cometido erros! Tantos quanto as próprias religiões que a antecederam em pretensa autoridade sobre o que é ou não é Verdade.

O período no qual as religiões são postas em dúvida e a ciência se arvora em dona da Verdade é o século XIX. No final daquele século, cientistas afirmaram que os passageiros de uma locomotiva a vapor ou de um automóvel, recém inventados, morreriam por hemorragia devido às velocidades pretendidas: 30 a 60 Km/h. As coisas não mudaram muito de lá para cá; naturalmente os erros são de outro nível e natureza, mas continuam acontecendo. Há décadas não existe mais ciência pela ciência, a busca do conhecimento pelos benefícios que ele possa eventualmente trazer. O mercantilismo ganancioso e avassalador dominou a ciência ao ponto de ser "verdade" aquilo que melhor convém a determinados interesses, sempre transitórios. Com isso a verdade tornou-se relativa.

A Realidade não se restringe àquilo que nós humanos queremos. A ciência é apenas o conhecimento organizado. Isso é bom por um lado, mas por outro é pernicioso e limitador, pois fragmenta essa mesma Realidade investigada. Passamos a vê-la e compreendê-la como quem olha por buracos de fechaduras.

Muitas vezes numa visão monocular e, por isso, limitada. Isso explica porque teorias contrárias podem ser elaboradas a partir de um mesmo material. Depende da interpretação que o investigador dá ao que foi visto pelo 'buraco da fechadura'.

Mas, e a porta nunca se abre? As portas se abrem sim quando estamos prontos para compreender o que está além delas. A ciência é um meio e não um fim em si mesmo. É objetiva e experimental, pondo à nossa disposição recursos para compreendermos, mesmo que parcial, fragmentária e imperfeitamente, a realidade que nos rodeia.

É intelectiva por natureza e pode sancionar ou não tudo aquilo que está ao alcance do intelecto. A questão é que nem toda a Realidade está contida no que é objetivo e experimental. Existe muita coisa além, no campo subjetivo e intuitivo e que também constituem verdades e realidades, mesmo que apenas em parcelas condizentes com nossa capacidade de entendimento ainda tão limitada.

Allan Kardec ao codificar, organizar, o Espiritismo, dando-lhe um corpo teórico consistente, usou os melhores recursos científicos de seu tempo. Lançou mão da metodologia positivista de então para que esta viabilizasse, desse as necessárias credenciais à nova doutrina no momento em que ela fosse levada ao conhecimento público. Isso significa que Kardec lançou mão da ciência para que esta sancionasse o novo conhecimento. Entretanto, ele foi prudente o suficiente para não submeter a evolução doutrinária espírita somente aos critérios da ciência humana, limitadora e eivada de conveniências. Condicionou a evolução do Espiritismo ao bom senso e à lógica, que são variáveis subjetivas. Se tivesse criado uma dependência absoluta a fatores objetivos e experimentais, típicos da ciência convencional, teria colocado o Espiritismo no campo dos interesses e conveniências humanos. Portanto, a metodologia positivista usada por Kardec foi um meio, um recurso, e não uma camisa de força que condicionasse a doutrina que nascia.

Conseqüentemente, a Doutrina Espírita progride em função de descobertas da ciência e sancionadas por esta e vai além em vários campos onde apenas a lógica e o bom senso subjetivos são possíveis. Claro que esta característica abre inúmeras possibilidades de discordâncias e interpretações diferentes, mas dá ao Espiritismo o seu dinamismo próprio, só cerceado pelas limitações e imperfeições do homem, origens do espírito sectário, do fanatismo, do conservadorismo, do religiosismo piegas e de tantas outras mazelas humanas que assolam o movimento espírita.

No futuro o conhecimento intelectivo se associará ao conhecimento intuitivo, dando ao homem a possibilidade de alcançar o conhecimento holístico, global, por inteiro, e não necessariamente fragmentário como agora. Enquanto isso, ainda nos veremos divididos, defendendo teses parciais, às vezes absurdas, provenientes do que vemos através de buracos de fechaduras.

sábado, 30 de agosto de 2008

JESUS, UM EXEMPLO MORAL QUE PERMANECE ATÉ HOJE

Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar?”

- (Jesus - Mateus, 5:13).



Os estudiosos da Doutrina, aqueles mais lúcidos e menos apegados aos simplismos tão comuns em nosso meio, certamente olham em volta e se perguntam se o que vemos e percebemos condiz com as promessas de quase todas as religiões. Com certeza, concluem que não. Apesar de termos consciência de que o planeta se encontra em franco processo de transformação sócio-moral, a derrocada das instituições, a subversão dos valores e a perda de referenciais conduz a um estado de insatisfação interior. Está faltando algo ou muita coisa.

No que nos diz respeito a nós espiritistas, o que vem sendo feito pelo movimento espírita representa, em um número muito grande de casos, desperdício de esforço material e humano e resultados medíocres. O evangelismo piegas que assola nosso movimento começa a ser questionado e o que se espera é que dessa situação saia uma reciclagem dos modos de se fazer o movimento espírita. A própria literatura doutrinária, vasta, profunda e universalista (a prova disso é que todos lêem obras espíritas) vem sendo por vezes contaminada por obras de pouco ou nenhum valor doutrinário. Muitos crêem que toda obra mediúnica é necessariamente espírita, o que não é verdade.

A questão Roustaing, abordada por vários articulistas em vários periódicos, parece que finalmente está sendo analisada com a clareza e decisão necessárias, de modo a se por termo a um assunto que já se arrasta há quase cem anos no Brasil sob os auspícios da FEB.

Fora de nosso meio a situação não é melhor. Muitas religiões perdem adeptos para outras, competindo no mercado da fé como se o mundo tivesse se tornado um shopping-center de misticismo. Na economia, na política, nas relações internacionais, no relacionamento familiar, social e profissional vemos o mesmo desnorteamento. Problemas graves como os que temos no Brasil, na área social, reclamam soluções urgentes que as instâncias governamentais não podem ou não querem dar. Nosso país é hoje a nona economia mundial e o qüinquagésimo oitavo colocado no que diz respeito aos indicadores sociais, conforme critérios de avaliações internacionais.

Chega de justificar tudo isso como “carma coletivo”. O problema liga-se à corrupção política e à incompetência administrativa.

Levantamos tais questões para levar o leitor a refletir que não se pode lançar toda a responsabilidade das transformações sociais nas mãos da Espiritualidade superior, enquanto cruzamos os braços e aguardamos os acontecimentos como se o aportar do terceiro milênio trouxesse as soluções milagrosas que muitos desejam. Não se pretende, por outro lado, que abandonemos nossos deveres e obrigações do cotidiano para nos unirmos numa cruzada de redirecionamento do mundo como se fôssemos uma comunidade de privilegiados. Não; muitos já correram atrás desse canto de sereia. O que se espera dos espíritas é que se conscientizem das realidades espirituais e que passem a vivenciá-las, mudando ou influenciando o comportamento daqueles com quem convivemos a partir do exemplo, mais do que recorrendo a discursos muitas vezes vazios, repetitivos e pouco convincentes porque são muito semelhantes aos de outras crenças.

O exemplo de Jesus permanece atual, mas é preciso antes compreender o papel daquele que em sua última passagem pela Terra foi chamado Joshua ben Joseph, Jesus filho de José. Ao contrário do que muitos ainda pensam, ele não foi um “doce e meigo rabi”, frágil e alheio às agruras da vida humana, como se não as tivesse vivido. Jesus, de temperamento brando e pacífico, sabia ser firme e enérgico quando necessário. Sepulcros caiados, uma expressão forte dirigida aos fariseus que ainda ecoa atualíssima, após quase dois mil anos. É necessário que nos conscientizemos de que nós cristãos, os espíritas em especial, somos seguidores de um revolucionário que acabou preso e condenado, não por sua pregação religiosa, coisa que o Sinédrio não temia e que os romanos simplesmente olhavam de cima. Jesus foi crucificado por causa de seus ensinamentos politicamente explosivos. Seu conteúdo de reformulação da sociedade terrena tem alcance muito maior do que os restritos campos da religião. Posta em prática, a Boa Nova reformula todos os aspectos da vida social. Jesus não pode ser reduzido a um fundador de religião, deve ser visto como um dos maiores revolucionários que o planeta já conheceu. Um revolucionário no campo das idéias, da ética e da moral. Joshua ben Joseph falou ao homem-humano de todos os tempos, de todas as culturas e não apenas aos judeus. O problema é que entre Joshua ben Joseph (Jesus) e Joshua bar Abba (Barrabás), a maioria ainda escolhe este último.

Revitalizar o Evangelho através de uma visão menos romântica e devocional é a saída para o próprio movimento espírita, para que este se torne mais atuante e seguro de seus objetivos.

Já foi questionado a um psicólogo, certa vez, o que Jesus tinha de tão especial para impressionar até seus adversários e chegar a dividir o tempo em antes e depois dele. A resposta foi surpreendentemente simples e clara, expressa mais ou menos assim: “Jesus, ao relacionar-se com cada homem ou mulher, tratava cada um como se fosse o único e o mais importante ser da criação, por isso seu amor era sentido em profundidade e levava homens e mulheres a transformações radicais e definitivas em suas vidas”. Será que a força das idéias do Cristo perdeu-se ao longo dos séculos ou nós é que nos tornamos incapazes de entendê-las em sua pureza e simplicidade?

sábado, 19 de julho de 2008

Idealismo e realidade

É certo que diante do panorama desalentador que vemos na atualidade do mundo, muitos se perguntam se vale a pena tentar fazer alguma coisa para mudar os rumos de tudo isso. Parece que o caos se instalou de modo definitivo em todos os setores da vida humana de modo a desestimular qualquer esforço no sentido de se melhorar a situação. Muitos alegam que o melhor é esperar que a tempestade passe antes de se fazer algo, pois como as coisas estão nada daria resultado, por isso acham que o melhor mesmo é manter o braços cruzados enquanto o circo pega fogo. A estes perguntamos se as coisas um dia melhorarão, se todos pensarem do mesmo modo e nada fizerem.

A História ensina que é justamente o idealismo da minoria que tem promovido os avanços da humanidade e mantido a chama da esperança nos períodos das grandes crises. Graças a homens e mulheres mantidos por uma intensa fé interior, clamando como vozes no deserto, a humanidade caminha, lentamente e, às vezes, aos arrancos, mas progredindo de alguma forma. Tais seres sempre existiram e existem ainda. A maioria trabalhando no anonimato, acreditando em si e no futuro do mundo, apesar de tudo. São muitos os que estão em atividade voluntária, sem pensar em recompensas ou retornos de ordem material, pecuniária ou sob a forma de qualquer benefício. As associações comunitárias, conselhos, centros espíritas, pastorais, APAEs e ONGs das mais diversas naturezas estão por aí fazendo o que podem em benefício do próximo, cumprindo tarefas que, em princípio, caberiam ao poder público.

Mais que dar coisas, sempre úteis considerando-se que nada sobrevive sem recursos materiais e financeiros, dão de si. Doam-se a si próprios para as atividades necessárias aos asilos e creches, orfanatos e centros de saúde, com o intuito de minorar o sofrimento dos que não podem agir por si mesmos. São pessoas que conseguem sair das queixas e reclamações, críticas e mau humor, para as ações propositivas, muitas vezes do trabalho solitário para a atividade solidária, com resultados sempre apreciáveis.

Nós espíritas nos encontramos, de alguma forma, na categoria desses idealistas quando deixamos de ser apenas leitores de romances ou freqüentadores de centros e partimos para uma atividade útil na casa que nos acolhe, nas atividades que se apresentam sob mil formas diferentes ou apenas orando, em casa mesmo, por aqueles que ainda sequer aprenderam a orar. De qualquer modo, o trabalho voluntário é sempre um exercício de altruísmo, é um sair de si. Saber dar algumas horas semanais de seu tempo para atividades de interesse comunitário é colaborar para mudar as coisas para melhor. É mais sábio acender uma vela que amaldiçoar a escuridão, diz a sabedoria chinesa.

Muitos dizem nada terem a oferecer para a vida em comum, sentem-se pequenos em termos de recursos, tempo, conhecimento etc. Na maioria dos casos são pequenos realmente apenas em boa vontade. Em geral, essa "síndrome de insuficiência" decorre de autoavaliações equivocadas, pois se a pessoa dispõe de recursos financeiros e não tem tempo, poderá ajudar com esses recursos; se dispõe de tempo e os recursos materiais são escassos, dê de seu tempo; se não dispõe de saúde mas possui conhecimento, divida este conhecimento com aqueles que têm menos, como quem semeia possibilidades para o presente e para o futuro, libertando mentes da escravidão da ignorância. Comumente se diz que ninguém é tão rico que nada precise e ninguém é tão pobre que nada tenha a oferecer. Essa é uma grande verdade, que deve ser considerada nos atuais momentos da vida terrena de modo a ajudarmos na grande transição que se efetua e a não cruzarmos os braços, esperando que as coisas se arranjem por si mesmas.

É provável que o leitor ou leitora compreenda que a recompensa pelo verdadeiro idealismo de cada um, em qualquer atividade da vida humana, é a própria satisfação interior que o trabalho traz. Valoriza e justifica a existência. Reforça a auto-estima, tem efeito multiplicador, pois pessoas que observam outras no trabalho voluntário acabam se sentindo estimuladas a tentar alguma coisa.

Enfim, apesar de todas as dificuldades e obstáculos que naturalmente surgem no trabalho voluntário, o idealista se sentirá sempre motivado por essa chama interior que o impulsiona, pois de certo modo é um inconformista, alguém que sabe que as coisas não precisam continuar assim só porque estão assim. É aconselhável que aquele que ainda não exercitou o trabalho voluntário, a atividade solidária, experimente dar de si, mais que dar coisas. O dar coisas muitas vezes se resume a mera filantropia, quando não a desencargo de consciência por razões políticas ou religiosas.