sábado, 19 de julho de 2008

Idealismo e realidade

É certo que diante do panorama desalentador que vemos na atualidade do mundo, muitos se perguntam se vale a pena tentar fazer alguma coisa para mudar os rumos de tudo isso. Parece que o caos se instalou de modo definitivo em todos os setores da vida humana de modo a desestimular qualquer esforço no sentido de se melhorar a situação. Muitos alegam que o melhor é esperar que a tempestade passe antes de se fazer algo, pois como as coisas estão nada daria resultado, por isso acham que o melhor mesmo é manter o braços cruzados enquanto o circo pega fogo. A estes perguntamos se as coisas um dia melhorarão, se todos pensarem do mesmo modo e nada fizerem.

A História ensina que é justamente o idealismo da minoria que tem promovido os avanços da humanidade e mantido a chama da esperança nos períodos das grandes crises. Graças a homens e mulheres mantidos por uma intensa fé interior, clamando como vozes no deserto, a humanidade caminha, lentamente e, às vezes, aos arrancos, mas progredindo de alguma forma. Tais seres sempre existiram e existem ainda. A maioria trabalhando no anonimato, acreditando em si e no futuro do mundo, apesar de tudo. São muitos os que estão em atividade voluntária, sem pensar em recompensas ou retornos de ordem material, pecuniária ou sob a forma de qualquer benefício. As associações comunitárias, conselhos, centros espíritas, pastorais, APAEs e ONGs das mais diversas naturezas estão por aí fazendo o que podem em benefício do próximo, cumprindo tarefas que, em princípio, caberiam ao poder público.

Mais que dar coisas, sempre úteis considerando-se que nada sobrevive sem recursos materiais e financeiros, dão de si. Doam-se a si próprios para as atividades necessárias aos asilos e creches, orfanatos e centros de saúde, com o intuito de minorar o sofrimento dos que não podem agir por si mesmos. São pessoas que conseguem sair das queixas e reclamações, críticas e mau humor, para as ações propositivas, muitas vezes do trabalho solitário para a atividade solidária, com resultados sempre apreciáveis.

Nós espíritas nos encontramos, de alguma forma, na categoria desses idealistas quando deixamos de ser apenas leitores de romances ou freqüentadores de centros e partimos para uma atividade útil na casa que nos acolhe, nas atividades que se apresentam sob mil formas diferentes ou apenas orando, em casa mesmo, por aqueles que ainda sequer aprenderam a orar. De qualquer modo, o trabalho voluntário é sempre um exercício de altruísmo, é um sair de si. Saber dar algumas horas semanais de seu tempo para atividades de interesse comunitário é colaborar para mudar as coisas para melhor. É mais sábio acender uma vela que amaldiçoar a escuridão, diz a sabedoria chinesa.

Muitos dizem nada terem a oferecer para a vida em comum, sentem-se pequenos em termos de recursos, tempo, conhecimento etc. Na maioria dos casos são pequenos realmente apenas em boa vontade. Em geral, essa "síndrome de insuficiência" decorre de autoavaliações equivocadas, pois se a pessoa dispõe de recursos financeiros e não tem tempo, poderá ajudar com esses recursos; se dispõe de tempo e os recursos materiais são escassos, dê de seu tempo; se não dispõe de saúde mas possui conhecimento, divida este conhecimento com aqueles que têm menos, como quem semeia possibilidades para o presente e para o futuro, libertando mentes da escravidão da ignorância. Comumente se diz que ninguém é tão rico que nada precise e ninguém é tão pobre que nada tenha a oferecer. Essa é uma grande verdade, que deve ser considerada nos atuais momentos da vida terrena de modo a ajudarmos na grande transição que se efetua e a não cruzarmos os braços, esperando que as coisas se arranjem por si mesmas.

É provável que o leitor ou leitora compreenda que a recompensa pelo verdadeiro idealismo de cada um, em qualquer atividade da vida humana, é a própria satisfação interior que o trabalho traz. Valoriza e justifica a existência. Reforça a auto-estima, tem efeito multiplicador, pois pessoas que observam outras no trabalho voluntário acabam se sentindo estimuladas a tentar alguma coisa.

Enfim, apesar de todas as dificuldades e obstáculos que naturalmente surgem no trabalho voluntário, o idealista se sentirá sempre motivado por essa chama interior que o impulsiona, pois de certo modo é um inconformista, alguém que sabe que as coisas não precisam continuar assim só porque estão assim. É aconselhável que aquele que ainda não exercitou o trabalho voluntário, a atividade solidária, experimente dar de si, mais que dar coisas. O dar coisas muitas vezes se resume a mera filantropia, quando não a desencargo de consciência por razões políticas ou religiosas.

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