terça-feira, 1 de julho de 2008

SOBRE A PREGUIÇA

Tenho em mãos sua consulta,

Minha prezada Larissa,

Você procura por nós,

Informes sobre a preguiça.



Preguiça mesmo no Além,

É uma sombra malfazeja,

Que o nosso espírito abraça,

Contra si próprio onde esteja.



É treva de obsessão,

Tão forte aí quanto aqui,

Moléstia do pensamento

Que a pessoa esconde em si



A preguiça escuta o verbo

De quem procura ajudar,

A prova, aceita, agradece,

Depois se põe a queixar.



Fala que anseia servir,

Dia a dia, hora por hora,

Que o trabalho é sempre a trilha

Por onde a vida melhora.



Afirma que a vida é luta,

Conhece o próprio dever,

Mas apresenta as razões

Porque não pode atender.



Preguiça não evolui,

Diz ela: — porque não tem,

Palavra de voz amiga

Nem proteção de ninguém.



As lágrimas que carrega

Só ela as vê como são,

Tem problemas que não cessam,

Tem família em provação.



Traz a saúde imperfeita

Embora reze com fé,

Suporta a cabeça fraca,

Carrega fogo no pé.



Tem cólica, batedeira,

Dor no fígado e no baço,

De dia, tudo é tristeza,

De noite, tudo é cansaço.



Sente aflição e azedume,

Sofre a queda dos cabelos,

Caminha de perna bamba,

Tem dores nos tornozelos.



Padece angústia constante,

Vê fel por todos os lados,

Alega a perseguição

De espíritos atrasados.



Quando está caindo chuva

Sofre zelos naturais,

Quando o calor aparece

Diz que o calor é demais.



Não se agüenta com vizinhos

Que estão sempre contra ela,

Em casa nunca dispõe

De apoio da parentela.



Preguiça, prezada irmã,

É sempre uma cousa assim:

Um sofrimento parado

Numa doença sem fim.



Preguiça, antiga moléstia,

É praga na criatura,

Recebe muito remédio

Mas só serviço é que cura.

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