Ontem eu não estava legal, é essa a frase que meus filhos costumam pronunciar.
Sentia uma espécie de nostalgia, talvez
Um misto de tristeza e saudade. Não
sabia de que, nem porque aquele estado de tristeza.
Resolvi sair, dirigi meu carro ouvindo bolero de Ravel. Parei num determinado ponto da cidade e ali findou a música.
Liguei novamente o carro e fui até o centro da cidade. Estacionei e sai caminhando até a praça central. Eram aproximadamente oito horas da noite. A praça estava quase deserta. Algumas pessoas transitavam sem darem importância a nada. De repente eu
notei uma moça, uma linda moça sentada em um banco da praça. Tomei a liberdade de aproximar-me. A cumprimentei com um boa noite sem contudo ter resposta.
Perguntei-lhe se podia sentar-me no mesmo banco. Também não tive resposta. Olhei para aquele rosto lindo, angelical, e notei seus olhos castanhos escuros parados,
como se nada visse, ou para nada olhasse. Passei minha mão levemente na frente de seus olhos, nenhum movimento fez. Então tive
a certeza que aquela linda moça era cega, muda e surda. Falei-lhe tanta coisa para ter certeza de sua falta de audição.
Em um instante ela pegou-me a mão,
acariciou-a levemente com a outra e
apontou a igreja que existe em frente a
praça. Entendi que ela queria ir até aquele templo. Segurei-lhe a mão e a conduzi até o interior da igreja. Estava vazia.
Ajoelhou-se no primeiro banco.
Eu não sou religioso, mas a acompanhei no mesmo gesto, por respeito ao rito sacramental. No meu silêncio,
como de costume, fiz minha prece silenciosa.
Desta vez pedindo a Deus a compensação para o tormento de alguém que não pode ver,
ouvir e falar. Na verdade minha prece era em benefício daquela linda moça. No repente de um gesto, senti sua mão
passando-me um pequeno papel dobrado, com um pequeno escrito: Leia depois.
Não me preocupei em ler o escrito, mas me preocupei em levar aquela moça ao mesmo banco da praça,
talvez alguém a estivesse esperando e preocupado naturalmente. Mas num gesto notei que ela queria ficar,
e mandou-me retirar, se eu quisesse
naturalmente. Foi o que fiz, retirei-me e
voltei à praça para ver se existia alguém a espera-la, mas não existia ninguém ali. Novamente sentei-me no mesmo banco e abri o bilhete. Ao lê-lo uma grande surpresa. Naquele papel estava escrito: Peça a Deus
por você, é isso que estou fazendo agora, pedindo-Lhe para liberta-lo dessa nostalgia, dessa saudade, dessa tristeza
que tanto lhe machuca o coração, só então dei-me conta de que não vi aquela moça escrever nada. Levantei-me e apressadamente fui até a igreja na esperança de encontra-la. Em vão, a igreja estava vazia.
Ajoelhei-me e novamente silenciosamente Rezei: Obrigado Senhor, por ter-me enviado o anjo de meus sonhos.
Sai, caminhei até meu carro e sai dirigindo e
pensando no ocorrido. Logo cheguei em
meu apartamento (eu moro só), abri a porta e logo percebi um aroma forte de flores, mas das flores que eu tinha na sala, nada exalava, dirigi-me aos outros cômodos e o aroma inebriante e delicioso era o mesmo, contagiante, de um aroma sem igual.
Notei que em mim, ou em meu coração não mais existia aquela nostalgia, aquela tristeza entremeada de solidão.
Eu estava feliz e alegre novamente, pois
estive com alguém muito importante em
minha vida. Estive com a presença do anjo dos meus sonhos, que certamente sempre velou meus passos, minha vida e meu coração.
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