sábado, 12 de janeiro de 2008

UM ANJO EM MINHA VIDA

Ontem eu não estava legal, é essa a frase que meus filhos costumam pronunciar.

Sentia uma espécie de nostalgia, talvez

Um misto de tristeza e saudade. Não

sabia de que, nem porque aquele estado de tristeza.

Resolvi sair, dirigi meu carro ouvindo bolero de Ravel. Parei num determinado ponto da cidade e ali findou a música.

Liguei novamente o carro e fui até o centro da cidade. Estacionei e sai caminhando até a praça central. Eram aproximadamente oito horas da noite. A praça estava quase deserta. Algumas pessoas transitavam sem darem importância a nada. De repente eu

notei uma moça, uma linda moça sentada em um banco da praça. Tomei a liberdade de aproximar-me. A cumprimentei com um boa noite sem contudo ter resposta.

Perguntei-lhe se podia sentar-me no mesmo banco. Também não tive resposta. Olhei para aquele rosto lindo, angelical, e notei seus olhos castanhos escuros parados,

como se nada visse, ou para nada olhasse. Passei minha mão levemente na frente de seus olhos, nenhum movimento fez. Então tive

a certeza que aquela linda moça era cega, muda e surda. Falei-lhe tanta coisa para ter certeza de sua falta de audição.

Em um instante ela pegou-me a mão,

acariciou-a levemente com a outra e

apontou a igreja que existe em frente a

praça. Entendi que ela queria ir até aquele templo. Segurei-lhe a mão e a conduzi até o interior da igreja. Estava vazia.

Ajoelhou-se no primeiro banco.

Eu não sou religioso, mas a acompanhei no mesmo gesto, por respeito ao rito sacramental. No meu silêncio,

como de costume, fiz minha prece silenciosa.

Desta vez pedindo a Deus a compensação para o tormento de alguém que não pode ver,

ouvir e falar. Na verdade minha prece era em benefício daquela linda moça. No repente de um gesto, senti sua mão

passando-me um pequeno papel dobrado, com um pequeno escrito: Leia depois.

Não me preocupei em ler o escrito, mas me preocupei em levar aquela moça ao mesmo banco da praça,

talvez alguém a estivesse esperando e preocupado naturalmente. Mas num gesto notei que ela queria ficar,

e mandou-me retirar, se eu quisesse

naturalmente. Foi o que fiz, retirei-me e

voltei à praça para ver se existia alguém a espera-la, mas não existia ninguém ali. Novamente sentei-me no mesmo banco e abri o bilhete. Ao lê-lo uma grande surpresa. Naquele papel estava escrito: Peça a Deus

por você, é isso que estou fazendo agora, pedindo-Lhe para liberta-lo dessa nostalgia, dessa saudade, dessa tristeza

que tanto lhe machuca o coração, só então dei-me conta de que não vi aquela moça escrever nada. Levantei-me e apressadamente fui até a igreja na esperança de encontra-la. Em vão, a igreja estava vazia.

Ajoelhei-me e novamente silenciosamente Rezei: Obrigado Senhor, por ter-me enviado o anjo de meus sonhos.

Sai, caminhei até meu carro e sai dirigindo e

pensando no ocorrido. Logo cheguei em

meu apartamento (eu moro só), abri a porta e logo percebi um aroma forte de flores, mas das flores que eu tinha na sala, nada exalava, dirigi-me aos outros cômodos e o aroma inebriante e delicioso era o mesmo, contagiante, de um aroma sem igual.

Notei que em mim, ou em meu coração não mais existia aquela nostalgia, aquela tristeza entremeada de solidão.

Eu estava feliz e alegre novamente, pois

estive com alguém muito importante em

minha vida. Estive com a presença do anjo dos meus sonhos, que certamente sempre velou meus passos, minha vida e meu coração.

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