quarta-feira, 21 de outubro de 2009

À espera de nada

Ventava em meu rosto naquele começo de noite, trazendo saudade e angústia. A Lua, moldura de antigos sonhos, sequer apareceu; somente estrelas esparsas e teimosas emprestavam brilho para direcionar o olho. Na verdade, elas me olhavam. Quase uma vigia solitária. Fazia tempo, que não tinha tempo, de ver o tempo passar. E agora com a chegada do horário de verão, perderia uma hora, justo naquele momento que contava cada segundo. Estranho porque não estava a espera de nada.
O relógio interior marcava o compasso certo, só não conseguia cumprir todas as funções: fácil seria apenas viver, isso não basta. Sempre tem um alarme despertando quando tudo está monótono, sem vida, ocre demais. Ainda bem. Ou desligamos o alerta ou acordamos para o nascimento de um novo dia no calendário. É a claridade que nos faz diferentes, quase sem máscaras, nus diante de nós mesmos. Para uns causa vergonha, para outros liberdades.
Quero um sol. A quem peço? Queria Construir compromissos de tantos anos. Talvez o inesperado, o frio na barriga, a ansiedade boa, me façam bem agora. Preciso de dedicação para mudar posturas senão fico frágil diante dos problemas, que serão sempre os mesmos, apesar das lágrimas inéditas.
Ontem não quis chorar, amanhã também não farei isso. A idéia é só chorar quando o tempo permitir. Como a chuva dos últimos dias, que lava docemente qualquer espécie de dúvida, de poeira, de sujeira inventada por nossos olhos. estão atentos a tudo, pouco descansam.
O tempo é capaz. Só ele. Somos reféns de suas garras que ora estão afiadas ora quietas. Não é o senhor apenas da razão. Faz que o jardim que ontem era apenas terra, hoje seja verde e flor. É a contagem da criança no ventre da mãe e os minutos impossíveis de retratar antes da morte. Acordem todos em paz.
Hoje só quero meu tempo de volta.
"Pode mandar embrulhar que
eu quero te levar pra viagem
volta pra nave mãe pra despressurizar
deixa o sol me beijar, me beijar..."

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