Quem não gosta de uma boa música? Pois a fala é música
popular universal, onde todos os reinos da natureza participam dentro
da sua dimensão própria de vida. O homem já domina a palavra com maior
fulgor. Ele é, por assim dizer, o seu próprio compositor, repentista
por natureza.
Quem fala com esmero, dirige uma orquestração na harmonia com
a vida, que pulsa em toda a criação. O Cristo, quando falava, enchia a
atmosfera de sons harmoniosos, de sorte a pacificar as coisas, os
homens e o próprio ambiente. Curava com o seu canto divino, fazendo,
com isso, os órgãos dos enfermos superarem os desequilíbrios,
transmutando os elementos de variadas qualidades, naqueles de rápida
restauração biológica, ensinando a vida em harmonia com o universo.
Conversar é fenômeno prodigioso, e conversar certo é ciência
superior dentro da Superioridade Maior, no concerto do amor. Tudo é
música na vida. Se pudesses ouvir a sinfonia de um átomo, com a sua
corte de elétrons e as escalas de tons e semitons no seu núcleo, pelos
elementos que o compõem, ficarias, e até o próprio Beethoven,
estarrecido... E os sóis e as estrelas? E as galáxias e acúmulos? E o
Todo Universal, que canta e toca pelas mãos e pela boca de Deus?
A locução aprimorada dignifica a vida, e a vida dignificada
ilumina a alma. Exercita a sós, no teu aposento, se possível fechado,
uma boa leitura em voz branda; procure fazê-la com o rosto iluminado
pela satisfação, sem esqueceres de vigiar constantemente, para que o
instinto da tristeza não te assalte, ocupando o lugar da alegria. Essa
rejeição da natureza é muito comum no principiante, mas se
persistires, com pouco tempo dominarás a tua fala. Desses simples
esforços, adquirirás muitos prêmios, cuja valia não tem preço. Um
deles é a saúde. A alegria é tonificador biológico, por excelência.
Há pessoas que tem tons de voz considerados intoleráveis pela
maioria dos ouvintes e, dentre elas, poucas reconhecem que a música
das suas palavras não está agradando. São chamadas de enjoadas e falta
nelas um reparo. As pessoas que realmente quiserem aprimorar sua
conversa, e ainda não descobriram se a sua fala agrada, devem ouvir
aquelas que não gostam delas. Somente estas têm a coragem de
identificá-las, pois as que as amam superam o mal-estar pelo amor e
não as condenam.
Quem conversa demasiadamente está sujeito a ser um péssimo
músico da dicção. As pessoas que falam sem freio na língua, tomando
todo o tempo que poderia servir para dois conversarem animadamente, é
o doente que, por vezes, recusa o remédio; mesmo que alguém já lhe
tenha falado da tempestade promovida pela sua boca, recusa parar com a
ventania. Gosta de falar de auto-análise; no entanto, se esquece de
colocá-la em prática consigo mesmo. Conversar demais é um abuso do dom
e das forças que gastas, e o pior é que muito gente foge de teu
encontro, por já saberem que somente têm que escutar.
É bom que aprendas a melodia da palavra com respeito aos
outros, que têm o mesmo dom que tu. Sabes por que tens ouvidos? Para
ouvir, também. Mesmo que fales muito bem e somente coisas agradáveis,
sê metódico no dizer. Também não é preciso desdobrar o versículo vinte
e dois de Jó: "Aceita, peço-te, a instrução que proferes, e põe as
suas palavras no teu coração".
Conversar demais é um abuso do dom e das forças que gastas.
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