domingo, 21 de novembro de 2010

O Divino Encontro

Viajor!... viajor!...
No oceano da vida, muita vez tua voz,
Misturada de pranto,
Clama a Presença Divina...



Entretanto,
Basta que surja uma ilha sedutora
Para que te detenhas muitos anos,
No cipoal das sensações efêmeras,
De bússola abandonada,
De leme esquecido, de navio ancorado em sombras...

Descuidado e feliz,
Observas, não longe,
Terremotos de dor compelindo-te à volta ao mar
Lembras-te então de novo,
E imploras, angustiado, a Presença Divina...

Todavia,
Basta que um companheiro te provoque
À disputa infeliz
Para que te projetes na água turva,
Fora da embarcação.

Torturado, bracejas,
Entre os monstros do abismo,
Não podes repousar,
Senão momentos breves
Entre braços de rocha
A emergirem do fundo...

E após dias de dor,
De sede, fome e sono,
Ganhas a praia extensa,
- Um deserto areal...
Nem árvores, nem fontes,
Apenas ervançais
Onde a serpente mora,
Aguardando-te os pés.



Foges espavorido,
Esfarrapado e só,
E, quando a ventania
Improvisa o sepulcro
Que te espera, por fim,
De corpo verminado,
Apodrecido e nu,
Sem bússola, sem nau,
Sem âncoras no porto,
Sem a voz de ninguém
Que te console ou guie,
Agarras-te à fé viva
E gritas para o Céu:
- Senhor! Senhor! Senhor!

Então, e só então,
Sentes no coração
Que soluça e que ri
A Voz, a Grande Voz que te renova o "eu":
- Não temas, filho meu,
Espera!... Estou aqui.

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