sexta-feira, 20 de junho de 2008

A ARTE DE CALAR E NÃO VER

Não te esqueças, amigo ignoto, de que todo homem, mesmo o mais positivo e dinâmico,

é essencialmente fraco, indigente, necessitado de socorro.
Todo homem tem as suas horas de solidão interior, horas de trevas e desânimo, horas

de desorientação e negro pessimismo.

É preciso que saibas adivinhar, nos olhos e na alma do próximo, essas horas soturnas...
Deves saber quando convém visitá-lo — e quando convém deixá-lo a sós...
Quando falar com ele — e quando calar com ele...
Quando o animar — e quando o tolerar, porque até os santos devem ser tolerados...

É preciso que saibas ver a seu tempo — e não ver o seu tempo...
É preciso que saibas silenciar em face das suas derrotas íntimas — e fechar os olhos

ante as suas fraquezas...
Quem espera de seu irmão perfeição absoluta cairá de decepção em decepção — e está

sempre disposto a lhe tirar do olho o argueiro.

Há na vida de todo mortal momentos trágicos em que se apagam todos os faróis da

praia, em que se eclipsam todas as estrelas do firmamento, em que vacilam todas as

colunas sob a veemência do terremoto...

Há na vida humana transes de suprema angústia em que o pobre mártir do próprio ego

tem de disfarçar com a serenidade dum sorriso convencional o candente vulcão da sua

tragédia interior...

Nem sempre a sociedade permite ao homem ser o que ele é...
Feliz de quem encontra uma alma compreensiva no meio da incompreensão!

Feliz de quem sabe ignorar, na discreta reticência dum grande amor, aquilo que desune

os homens e acende nas almas infernos de infelicidade!

Muitos são os homens que enxergam com admirável precisão — poucos os que sabem

ser cegos quando convém...
Eterno silêncio envolve os cumes excelsos das grandes montanhas — e as ínfimas

profundezas do mar...

Muitos são os mais humanos e os mais divinos momentos da vida — os abismos da dor

e as alturas do amor.
Nas mais altas alturas e nas mais profundas profundezas do seu ser — o homem está

só...
E a sós consigo e com Deus tem de resolver os mais trágicos problemas da vida...

Ninguém o pode acompanhar nessa grande solidão...
Nem pai nem filho...
Nem esposo nem esposa...
Nem irmão nem amigo...
Ele só com Deus...

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