O amor de Deus está presente por toda parte. A natureza fala da sua grandeza em cada detalhe.
E o amor de Deus é a própria esperança se derramando sobre toda a criação.
Quando observamos as cinzas de um campo queimado, talvez pensemos que a vida ali se extinguiu para sempre.
Mas em pouco tempo as plantas brotam, mais verdes que nunca, mostrando que nada consegue deter a vida.
Quando vemos os escombros deixados pela fúria das tempestades, pode nos parecer que nada mais poderá existir em tão deprimente paisagem.
No entanto, em breve tempo as mãos hábeis e competentes dos homens deixam o local em condições de ser habitado novamente.
Quando olhamos vastas extensões de terras esturricadas pela estiagem, temos a impressão de que a vida bateu em retirada, para sempre.
Mas, para espanto de todos, a chuva cai de mansinho, penetrando o solo castigado, acordando as sementes que jaziam adormecidas e, em pouco tempo o que era deserto se converte em imenso jardim multicolorido.
É assim que Deus nos fala da esperança, a cada instante.
Foi observando esses pequenos detalhes da natureza, que um poeta escreveu o poema que reproduzimos a seguir:
E eu que achei que a lua não brilhasse sobre os mortos no campo da guerrilha, sobre a relva que encobre a armadilha ou sobre o esconderijo da quadrilha,... Mas brilha.
E achei que nenhum pássaro cantasse, se um lavrador não mais colhe o que planta, se uma família vai dormir sem janta com um soluço preso na garganta,... Mas canta.
Também pensei que a chuva não regasse a folha cujo leite queima e cega, a carnívora flor que o inseto pega ou o espinho oculto na macega,... Mas rega.
Pensei, também, que o orvalho não beijasse a venenosa cobra que rasteja, no silêncio da noite sertaneja, sobre as ruínas de esquecida igreja,... Mas beija.
Imaginei que a água não lavasse o chicote que em sangue deprava, quando, de forma monstruosa e brava, abre trilhas de dor na pele escrava,... Mas lava.
Apostei que nenhuma borboleta – por ser um vivo exemplo de esperança – dançaria contente, leve e mansa sobre o túmulo de uma criança,... Mas dança.
E eu pensei que o sol não mais aquecesse os campos que a guerra empobrece, onde tomba do homem a própria espécie, e a sombra da dor enlouquece,... Mas aquece.
Por isso achei que eu não mais fizesse poema algum, após tanto embaraço, tanta decepção, tanto cansaço e tanta espera, em vão, por teu abraço,... Mas faço.
* * *
O mesmo calor solar, que mantém no estado líquido a água dos rios e dos mares, conduz a seiva à fronde das árvores e faz pulsar o coração dos abutres e das pombas.
A luz que espalha o verde nos prados, e nutre as plantas com um sopro impalpável, também povoa a atmosfera de maravilhosas belezas aéreas.
O som que estremece a folhagem, canta na orla dos bosques, ruge nas plagas marinhas.
Em tudo vemos, enfim, uma correlação de forças físicas, que abrange num mesmo sistema a totalidade da vida sob a comunhão das mesmas leis. Que são as soberanas leis divinas.
domingo, 19 de abril de 2009
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