segunda-feira, 18 de outubro de 2010

EU ACREDITO EM FADAS!

Para quem não sabe, faço terapia há quase 10 anos e, felizmente, ainda descubro o quanto tenho a aprender, amadurecer e me transformar. A cada semana, percebo nuances de mim mesma e me vejo tendo de lidar com sentimentos difíceis, atitudes que não quero mais repetir e crenças que preciso reescrever.

Pois bem, nesta semana, enquanto dirigia para a sessão, comecei a entrar em contato com um incômodo que vinha me rondando há alguns dias. Terminei por constatar que a causa era o fato de ter sido chamada de tola, inocente e boba, por pessoas bastante queridas; três vezes num período de dez dias.

A primeira foi uma amiga que me contava sobre a separação dela. Descobriu que o marido vinha mantendo um caso extraconjugal há alguns meses e resolveu romper a relação. Falávamos, inclusive, sobre um de meus últimos artigos - ‘Preconceito ou falta de ética’ - e o quanto algumas pessoas parecem ter perdido a noção de lealdade.

Num determinado momento da conversa, disse a ela que, apesar de todas as mensagens que recebo, de todos os casos que me contam e de eu mesma já ter sido traída, continuo acreditando que existem pessoas fiéis, leais, dispostas a manter um relacionamento baseado na sinceridade, ainda que possam cometer erros.

Ela riu e me disse: ah, Rô, não seja boba. Não existem pessoas fiéis. Todo mundo trai e acha normal. Cada vez mais estou certa disso!. E eu discordei categoricamente, dizendo que no dia em que eu não acreditasse mais nas pessoas, pararia de escrever, porque teria perdido totalmente minha inspiração, meu alimento: o desejo genuíno de sermos bons e felizes!

A segunda foi um amigo que, ao relembrarmos um outro amigo muito próximo de mim, me falou que tinha certeza de que ele usa determinado entorpecente. Levei um susto e disse: claro que não! Somos confidentes e ele já me contou diversas situações da vida dele, mas sempre me garantiu que não usava isso. Inclusive, arrisco-me a dizer que ele pode ter vários defeitos, mas se tem algo que eu nunca o vi fazer, nem comigo e nem com ninguém, foi mentir. E se ele me disse que não usa, acredito nele!.

E meu amigo também riu de mim. Ah, fala sério! Como você é tonta! Só porque ele disse que não usa, você acredita? Talvez ele não faça na sua frente, mas você não está com ele o tempo todo. Além disso, tá na cara que é mentira!.

Ainda arrisquei: Mas você já o viu fazendo isso?. E ele respondeu: não, mas nem preciso. Basta olhar pra ele pra perceber!. Visivelmente irritada, retruquei: pois eu acredito nele e só deixarei de acreditar quando tiver um motivo concreto para isso!.

E a terceira vez, que me fez explodir, foi quando uma outra amiga me contava sobre alguns acontecimentos bizarros dentro de uma empresa conhecida. De repente, ela afirmou que uma pessoa de quem eu gosto demais, e que trabalha lá, havia feito uma escolha que considero antiética.

Imediatamente saí à defesa dela: ela não fez isso, tenho certeza! Já conversamos sobre o assunto e ela me garantiu que não fez!. E de novo fui motivo de riso. Minha amiga me chamou de inocente e disse que acredito demais nas pessoas.

Pois bem! Pensei, refleti, dei ouvidos à minha intuição, cheguei a chorar na sessão de terapia, mas já tenho uma conclusão: posso até ser tola em muitos momentos. Provavelmente sou mesmo inocente em outros. E certamente me comporto feito tonta em algumas circunstncias. Mas o fato é que, diante das pessoas que amo, tenho duas opções: acreditar nelas ou desacreditar delas!

A minha decisão é continuar acreditando até que - se for o caso - elas me dêem motivos concretos e reais para que eu passe a desacreditar. Porque, sinceramente, acredito que existem pessoas boas, fiéis, sinceras, éticas e humanas de verdade.

A única coisa em que, infelizmente, deixei de acreditar faz alguns bons anos é no sistema político do Brasil. Veja bem: não estou dizendo que todo político é corrupto, mas que o sistema está corrompido. E ainda assim, se me derem motivos concretos para voltar a acreditar num sistema eficiente e honesto, não pensarei duas vezes: acreditarei!

Portanto, declaro a quem possa interessar que me junto a Peter Pan, à Wendy e todos os seus amigos para gritarmos bem alto: Eu acredito em Fadas! Acredito! Acredito!...

Pois se cada vez que alguém diz ‘Eu não acredito em fadas’, uma pequenina fada cai morta no chão, estou certa de que cada vez que alguém diz que não acredita em pessoas sinceras, um coração sincero morre, em algum lugar do mundo!

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