O que faz doer nem sempre
tem causa aparente.
Dor é um acontecimento sem datas.
Prolonga-se no tempo
e contraria todas as regras
dos argumentos.
Eu não sei o que dói.
Eu não sei quando começou doer.
O que sei é que a dor é a identificação
mais profunda da condição humana.
Dela é que nasce
a expressão do cuidado.
A dor sinaliza que algo
precisa ser curado,
que algo carece de presença,
olhar atento e esforço redobrado.
Dores são diversas.
São físicas, emocionais,
psíquicas.
Dores de toda hora,
de vez em quando,
ao cair da tarde,
com o chegar das primeiras
estrelas ou com os
primeiros raios de sol.
Dores não conhecem o tempo.
Chegam quando querem.
Elas se acomodam nos
cantos da alma,
nos centros das carnes e ficam.
Os que já sofreram muitas
dores aprenderam a
lidar com elas.
Elas amadurecem.
Eu tenho um amigo travando
uma luta ferrenha com essas
visitantes estranhas.
Os olhos brilhavam um pouco mais.
O sorriso que lhe é tão próprio
não se desfez em nenhum momento,
mas apenas cedeu lugar para
uma forma mais sublime de sorrir.
Era a dor chegando com
sua lousa e giz,
pronta pra ensinar.
Ele tem sabido aprender.
Tenho orgulho do meu amigo e sei,
que mais cedo ou mais tarde,
eu receberei as lições desse aprendizado.
Sofri com ele, mas de longe.
Não posso ficar ao lado.
Eu experimento a dor à distância.
Experimento a dor que tem sido minha,
e que de alguma forma é
a dele também.
Dores criam esquinas inesperadas.
Não sabemos dar nome ao
que nos faz sofrer,
soframos abraçados aos que
nos amam de verdade.
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