quarta-feira, 13 de maio de 2009

Filho-Problema

Um dia desses conversava com os pais de um jovem portador
de uma enfermidade que o encarcerou numa cadeira de rodas,
tornando-o dependente dos cuidados dos familiares.
Quando tivemos o primeiro contato com a família, o garoto
ainda era senhor dos próprios passos, corria, jogava, brincava
como qualquer criança.
Um dia surgiram alguns sintomas e os especialistas deram
a triste notícia aos pais: o agravamento era inevitável.
Mas o que impressiona naquela família, é a forma
com que enfrenta a situação.
O irmão mais novo é todo atenção e carinho.
A irmã mais velha é a presença constante do afeto.
A mãe é o eixo central que dá o tom do equilíbrio e
instaura a disciplina.
É como uma flor a espalhar o perfume da ternura em notas
de afago e firmeza.
O pai é a segurança, o grande amigão, o companheiro que
assiste o futebol e torce junto, embora para times diferentes.
O jovem tem dificuldades para pronunciar as palavras,
mas tem um notável senso de humor.
Não deixa passar as oportunidades de comentar, de forma
jocosa, as pequenas falhas do pai.
Quando o pai o esquece no banheiro, por longo tempo,
ele diz que já está acostumado, por isso tem sempre ao lado
do vaso uma revista ou um livro de sua preferência.
"Você não é o pai que eu desejo, mas é o pai que eu preciso",
comenta de vez em quando, com um sorriso maroto.
Um dia, uma vizinha perguntou à sua mãe:
"É você que tem um filho-problema?"
E a mãe respondeu, sem hesitar:
"Não, eu não tenho nenhum filho-problema."
Um dia, comentando esse episódio, essa mãe-ternura dizia:
"Não vejo em meu garoto um filho-problema.
Ele é parte importante para a alegria do nosso lar.
Ensina-nos tantas coisas.
É valioso tesouro que o Criador nos emprestou.
Creio que filho-problema é aquele que provoca pranto e infelicita os pais...
É o filho criminoso, violento, que crava no coração
dos pais o punhal do desgosto, da ingratidão.
Filho-problema é o filho esbanjador, explorador de seus pais,
corrupto e corruptor, insensível, irresponsável.
Portanto, meu garoto não é um filho-problema, embora tenha
sérias limitações físicas."

* * *

Sem dúvida aquela mãe tem razão.
Existem pais e mães que carregam a pesada cruz
construída por filhos-problema.
Enquanto cuida, com desvelo e carinho, do seu tesouro
imobilizado numa cadeira de rodas, aquela mãe pensa nas
outras mães que morrem aos poucos nas madrugadas à espera
de filhos indiferentes.
Propiciar bem-estar ao seu jovem-rapaz, fazer-lhe a higiene,
alimentá-lo, renunciar à profissão para se dedicar ao seu tesouro,
não é problema nem sofrimento para aquela amorável mãe.
No entanto, há outras mães que amargam seus filhos-problema,
que não têm nenhuma limitação física, mas cujos
corações são de pedra.
Por tudo isso, é importante pensar a respeito do que
seja realmente um filho-problema.
E estejamos seguros de que as limitações físicas de um
filho não são, necessariamente, fonte de dificuldade para os pais,
assim como a saúde física não é garantia de felicidade.

* * *

Todo filho é empréstimo sagrado que o Criador concede
aos pais para que seja burilado com o cinzel do amor.
Quase sempre o filho rebelde é alguém que necessita de
carinho e firmeza para que possa reencontrar o caminho
para Deus.
Assim sendo, não importa o quanto custe de sacrifício e
esforço, o melhor investimento que os pais podem fazer é devolver
ao Genitor Celeste essas jóias com mais brilho na alma.

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