Por muitas vidas vi passar o frígido inverno e a verde primavera.
Aprisionado em minha pequena alcova,
Eu não via a árvore inteira e todo o céu
Para mim, era aquela a Verdade.
Com a ação destruidora do tempo,
Minha janela cresceu.
E contemplei então
Um ramo com muitas folhas
E uma vasta expansão do céu, com muitas nuvens,
Esqueci a folha verde solitária e aquela nesga de imensidão azul.
Jurava que não existia a árvore, nem o céu imenso
Para mim, era aquela a Verdade.
Cansado da prisão,
Da estreita cela,
Revoltei-me contra minha janela,
Com os dedos a sangrar.
Arranquei tijolo após tijolo,
Contemplei então
A árvore inteira, seu tronco majestoso,
Seus ramos numerosos, suas miríades de folhas,
E uma imensa parte do céu.
Jurava que não existia outra árvore, nem outra parte do céu
Era aquela a Verdade.
Aquela prisão já não me retém,
Saí a voar, através da janela,
Ó amigo,
Agora contemplo todas as árvores
E a vastidão do céu sem limites.
E embora eu viva em cada folha
E em cada nesga do vasto céu azul,
Embora eu viva em cada prisão,
a espreitar por estreitas frestas,
Sou livre.
Não! Nada mais me prenderá
Esta é a verdade.
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