quarta-feira, 7 de maio de 2008

Um pouco de solidão não faz mal a ninguém!

- Ai, eu não agüento mais ficar sozinha!

- Não me apaixono há um tempão! Isso me deixa com uma sensação de vazio...

Escutei essas duas frases, de dois amigos, uma mulher e um homem, respectivamente, na mesma semana e fiquei refletindo: quanto tempo se leva para amar novamente?

Será que tem tempo limite?

Será que tem necessariamente algo de errado com quem está só há algum tempo?

Onde estão escritas as regras e os prazos de cada coração?

Bem, a amiga que reclamou porque não agüenta mais ficar sozinha me contou que está sem namorado faz praticamente um ano e que tem se sentido extremamente carente.

Todos os encontros que teve depois deste namoro terminaram em duas ou três saídas, no máximo.

- Ninguém se interessa por mim!, reclamou ela num tom de tristeza e lamentação.

O amigo, por sua vez, me contou que se sente chateado porque não consegue se apaixonar por ninguém há uns três anos.

Confessou que as relações que vêm tendo durante este tempo, embora sejam afetuosas, não lhe trazem aquela sensação inexplicável de estar envolvido, entregue, com aquele sorriso fácil nos lábios...

Eu sei que o que todos nós desejamos, no final das contas, é sentir exatamente o que canta Zeca Baleiro, na música Telegrama:



Hoje eu acordei

Com uma vontade danada de mandar flores ao delegado

De bater na porta do vizinho e desejar bom dia

De beijar o português da padaria...



Mas o fato é que isso não acontece todos os dias...

E se pensarmos um pouco, não poderia ser diferente.

Se fosse banal, corriqueiro, cotidiano, não seria tão transformador, não seria tão especial...

Só que não queremos esperar.

Não queremos aprender a lidar com a tristeza, com o vazio, com a solidão.

Não queremos, sobretudo, aprender com todos os sentimentos que esse tempo em que ficamos sós nos traz.

Aliás, sequer nos permitimos descobrir o quanto pode ser bom ficar sozinho de vez em quando.

Muitas vezes, entramos numa ansiedade exagerada, destrutiva, que mina nossa auto-estima; e, assim, somos esmagados por uma cobrança interna que nos rouba o bom-senso e a capacidade de fazer escolhas.

Começa a valer o ditado o que vier, é lucro, mas em pouco tempo, percebemos que o preço a pagar por escolhas mal-feitas é alto demais.

Relações que não nos acrescentam; pelo contrário, servem para bagunçar ainda mais os nossos dias e aumentar a sensação de frustração e de incompetência emocional.

Claro, engolimos sem mastigar, numa tentativa desesperada de acabar com a solidão...

E aí eu pergunto: por que é que resolvemos acreditar que a solidão é algo tão ruim?

Será?

Será mesmo que não há nada de proveitoso, de bom e prazeroso que podemos fazer enquanto estamos descomprometidos?

E mais: será que é possível se apaixonar a cada quinze dias ou assim que acaba uma relação?

Será que é produtivo emendar uma relação na outra sem ter tempo sequer de se questionar quais são seus verdadeiros desejos?

E, por fim, será mesmo que estar com alguém é remédio para todas as nossas dores, solução para todos os nossos problemas e o fim de todas as nossas angústias?

Penso que é somente quando relaxamos e entendemos que estar com alguém e, principalmente, apaixonar-se e sentir-se feliz são conseqüências de uma harmonia interna, que compreendemos que somos seres genuinamente sós e que o outro é um presente a ser compartilhado e não uma necessidade dolorida, desesperada, insana...

Aí sim poderemos experimentar relações mais leves, mais gostosas e mais maduras ou ficaremos sós e nos sentiremos bem.

Em fase de espera, sim, mas sem tanta tristeza; apenas respeitando o ritmo dos corações e sabendo que uma relação gostosa e apaixonada acontece quando a gente realmente tem espaço para ela...

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