Se visse por acaso um anjo, não me surpreenderia.
Não é preciso assistir a milagres para dizer que existem.
A própria vida é um milagre.
E milagre esta esperança que não se acaba.
Falar , cantar, amar: eis o milagre.
Sofre: eis o milagre.
Morrer: grande milagre!
Constantemente nos sondamos como quem percorre
[uma cidade estranha.
E vivemos na atmosfera de uma permanente descoberta.
Para que então a necessidade do milagre?
Não sonhamos olhando a noite?
Não desejamos o intangível?
Não vemos sempre novas estrelas?
Não nos banhamos na luz matinal, retemperadora?
Não choramos diante dos mortos,
Embora para eles tenha deixado de existir a morte?
Viver: grande milagre!
Não bastaria ao homem a presença de um anjo,
Porque o negaria
Como negou a Cristo.
A vida exige sempre.
A morte exige sempre.
Por isso – vida e morte – serão sempre um perene milagre
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