Alguém houve na Terra que nascido na palha não desesperou da pobreza a que o
mundo lhe relegara a existência, transformando o berço apagado em poema
inesquecível.
Assinalado por uma estrela em sua primeira hora humana, nunca se lembrou
disso em meio das criaturas.
Com a sabedoria dos anjos, falava a linguagem dos homens, entretendo-se à
beira de um lago em desconforto, com as criancinhas desamparadas.
Trazendo os tesouros da imortalidade no espírito, vivia sem disputar uma
pedra onde repousar a cabeça e dispondo da autoridade maior escolhia servir,
ao invés de mandar, levantando os doentes e amparando aos aflitos.
Em permanente contato com o Céu, ninguém lhe ouviu qualquer palavra em torno
dessa prerrogativa e podendo deslumbrar o cérebro de seu tempo, preferia
buscar o coração dos simples para esculpir na alma do povo as virtudes do
amor no apoio recíproco.
Esquecido, não se descurava do dever de auxiliar sempre; insultado,
perdoava; traído, socorria aos verdugos, soerguendo-lhes o espírito através
da própria humildade.
Golpeado em suas esperanças mais belas, desculpava sem condições a quantos lhe feriam a alma Angélica.
Amparando sem paga, ninguém lhe escutou a mais leve queixa contra os
beneficiários sem memória a lhe zurzirem a vida e o nome com as farpas da
ingratidão.
Vendido por um dos companheiros que mais amava, recebeu-lhe, sereno, o beijo suspeitoso.
Encarcerado e sentenciado, à morte sem culpa, não recorreu à justiça por
amor àqueles que lhe escarravam na face, deixando-se sacrificar com o
silêncio da paz e o verbo do perdão.
E ainda mesmo depois do túmulo, ei-lo que volta à Terra estendendo as mãos
aos amigos que o mal segregara na deserção, reunindo-os de novo em seus
braços de luz.
Esse alguém era humilde.
Esse alguém é Jesus.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
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