sexta-feira, 1 de maio de 2009

Quadro Familiar

Eu estava sentado em minha cadeira favorita,

estudando para a fase final de meu doutorado,

quando Sarah apareceu com uma pergunta:

"Papai, você quer ver meu desenho? "

"Sarah, papai está ocupado.

Volte um pouco mais tarde, querida."

Eu estava ocupado.

O trabalho de uma semana inteira a ser feito

em apenas um fim de semana.

Dez minutos depois ela entrou na sala:

"Papai, me deixa te mostrar o meu desenho."

"Sarah, volte mais tarde.

Isto que estou fazendo é importante."

Três minutos depois ela entra novamente,

fica à um palmo de meu nariz e falou com todo o poder

que um comandante de cinco anos de idade

poderia conseguir: "Você quer ver ou não?"

"Não, eu não quero."

Com isso, ela zuniu pra fora e me deixou só.

E de alguma maneira, estando só

naquele momento não estava tão satisfeito

quanto pensei que ficaria.

Me senti como que puxado e fui até a porta da frente.

"Sarah" eu chamei,

"você poderia entrar um minuto, por favor?

Papai gostaria de ver o seu desenho."

Ela entrou sem reclamações e se atirou em meu colo.

Era um grande quadro. Ela lhe deu até um título.

No alto, com sua melhor letra,

estava escrito: NOSSA FAMÍLIA.

"Me explique o quadro", pedi a ela.

"Aqui é a Mamãe (uma figura de palito

com cabelo longo, amarelo, ondulado), aqui sou eu,

do lado de Mamãe (com um sorriso no rosto),

aqui é Katie (nosso cachorro),

e aqui é Missy (a pequena irmã dela)."

Era uma interessante apresentação

da forma como ela via nossa família.

"Adorei seu desenho, querida.

Vou pendurar na parede da sala de jantar,

e toda noite quando eu voltar da aula

eu vou olhar para ele."

Ela sorriu de orelha a orelha e foi brincar lá fora.

Voltei aos meus livros.

Mas por alguma razão eu mantive a leitura

no mesmo parágrafo repetidamente.

Algo me deixava intranqüilo.

Algo sobre o desenho de Sarah.

Alguma coisa estava faltando.

Eu fui até a porta da frente."Sarah," eu chamei,

"você poderia voltar aqui dentro um minuto, por favor?

Eu quero olhar seu desenho novamente."

Sarah voltou ao meu colo.

Hoje, fecho meus olhos e posso ver exatamente

o jeitinho dela. Bochechas rosadas.

Rabo de cavalo, short vermelho e tênis.

Uma boneca de pano, chamada Nellie,

debaixo do braço.

Eu fiz uma pergunta para minha pequena menina,

mas não estava certo de querer ouvir a resposta.

"Querida, Tem a Mamãe, e Sarah, e Missy.

Até Katie, que é um cachorro está no desenho.

E tem o sol, e a casa, e esquilos e pássaros.

Mas Sarah... onde está seu papai?"

"Você está na biblioteca. Ela respondeu."

Com aquela declaração simples,

minha pequena princesa parou o tempo para mim.

Erguendo-a suavemente, eu lhe mandei de volta

para brincar ao sol de primavera.

Eu me afundei em minha cadeira

com a cabeça girando.

A declaração simples de Sarah

-Você está na biblioteca-

prendeu minha atenção por um bom tempo.

Pendurei o desenho na parede da sala de jantar

conforme tinha prometido à minha menina.

E por aquelas longas semanas que antecederam

a defesa de minha tese,

eu encarei aquele retrato esclarecedor.

Finalmente terminei meu doutorado.

Agora eu era "Dr. Rosberg",

e eu deveria ter me sentido muito bem.

Mas francamente não havia muita alegria em minha vida.

Uma noite depois da graduação, Barbara e eu

estávamos conversando na cama e eu lhe perguntei:

Barbara, obviamente você viu o desenho da Sarah

pendurado na parede da sala de jantar.

Por que você não disse nada?

"Porque eu sei o quanto feriu você."

Palavras de uma sábia mulher. Aquele ponto,

eu fiz a pergunta mais difícil de minha vida.

"Bárbara... Eu quero voltar pra casa. Posso?”

Vinte segundos de silêncio se seguiram.

Parecia que eu prendia meu fôlego

por mais de uma hora.

"Gary", Bárbara disse cuidadosamente

"as meninas e eu te amamos muito.

Nós o queremos em casa.

Mas você não esteve aqui. Eu me senti

como mãe e pai durante muito tempo."

As palavras impressas parecem frias,

mas ela as disse com carinho e ternura.

Era apenas a verdade clara, sem disfarce.

Minha pequena menina tinha desenhado o quadro,

e agora a mãe dela dizia as palavras.

Minha vida tinha sido descontrolada,

minha família estava em piloto automático,

e eu tinha uma longa estrada pela frente

se quisesse as conquistar novamente.

Mas eu tinha conseguir.

Agora que a névoa tinha se dissipado,

se tornou o objetivo mais importante de minha vida.

O Dr. Gary Rosberg conseguiu sua família de volta.

Mas isso custou tempo, sacrifício e amor.

Dois anos depois, sua três queridas princesas

lhe entregaram um presente:

um novo quadro da família, com Papai bem no centro.

De volta ao seu lugar.

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