Somente em Lucas, o evangelho da misericórdia, encontramos a parábola
do pai bondoso e seus dois filhos. Foi contada por Jesus para
responder aos doutores da lei e fariseus, que se consideravam justos e
o criticavam por conviver com pecadores.
O pai da parábola representa o próprio Deus, cujo amor é
incondicional. Mas vale a pena nos colocar-mos no lugar de cada um dos
filhos, porque em cada um de nós há um pouco do irmão mais novo e
outro tanto do irmão mais velho.
O mais novo é aventureiro e gasta tudo numa vida sem princípios nem
responsabilidades. Acaba reduzido a nada e então inicia um processo de
conversão, ao tomar consciência de estar moralmente reduzido a menos
que os porcos. Daí vem a descoberta, ou a recordação, de que o Pai
sempre foi bondoso e sempre o será. O filho mais novo faz-nos lembrar
nossos erros e a conversão a que somos chamados a cada dia.
O filho mais velho, ao invés, é o "justo" da história. O justo que
obedece ao Pai esperando receber recompensa. Mas sua atitude mostra
que é preciso ir além da simples obediência. A justiça do Pai chega à
misericórdia, ao perdão, pois supõe a responsabilidade junto com o
amor misericordioso. E no amor fraterno não há lugar para a inveja,
tal como a do filho mais velho. Colocar-se no lugar deste é reconhecer
em nós a atitude de nos considerarmos justos e vermos somente erros
nos outros.
A parábola é convite a olhar os que erram com o olhar misericordioso
do Pai. Porque ninguém é justo o suficiente e ama o suficiente. E é
interessante notar que a história contada por Jesus fica aberta, como
que sem fim. O filho mais velho vai entrar para a festa do retorno do
irmão? Nós é que daremos um final, demonstrando ao Pai quão fraternos
somos: se nos alegramos e entramos para a festa com os irmãos que
pecaram e voltaram ou se preferimos assumir a atitude "bem comportada"
de quem simplesmente obedece, mas está fechado ao amor misericordioso
do Pai..
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