quinta-feira, 8 de abril de 2010

Andarilhos pela estrada ou peregrinos a caminho?

A vida de Jesus torna-se incompreensível para o homem, quando entra no Mistério Pascal. As esperanças desmoronam, as palavras perdem significado, a comunidade se desfaz, diante da dor da perda, causada pela morte de Jesus.

Surpreendo-me com as reflexões que tomam conta de mim, quando me deparo com um andarilho solitário, carregando seus parcos pertences, sem descanso, pelas ruas e caminhos da vida. O que o move? O que busca? Para onde vai? De onde vem? O que faz aqui? Que sentido têm seu ir e vir sem tréguas?

Surpreende-me também a reflexão que surge sempre que viajo ou contemplo as rodovias, ou mesmo quando contemplo a multidão que anda pela Rua XV de Curitiba: o que levou o homem a abrir tantos caminhos, em tantas direções, tão diferentes, uns lindos e outros ainda muito precários? O que tira o homem de um lugar para colocá-lo em movimento, às vezes sem nenhum motivo real, concreto? O que quer o ser humano quando anda sem parar?

São Lucas é muito sábio quando escreve a respeito dos Discípulos de Emaús. Coloca-os a caminho entre duas realidades: Jerusalém e Emaús. Entre estes dois lugares teológicos há um caminho. Em Jerusalém, a Páscoa é comemorada na dor da morte de Jesus. “Os últimos acontecimentos”. A tristeza, a desilusão, a dor colocam dois jovens discípulos a caminho. Seguem tristes conversando. A dor é tão grande que o assunto toma conta de todo o caminho. Anoitecia quando entraram em Emaús. Param e convidam o peregrino que se uniu a eles a ficar também pois é tarde e as estradas são perigosas...
Cansados, com fome, tristes, mas abertos a acolher quem faz caminho com eles, sentam para cear... e... de repente... os olhos se abrem... o peregrino toma o pão, parte-o e o entrega... e desaparece.

O diálogo no caminho percorrido é o espaço terapêutico e catequético de duas realidades fortes para os peregrinos, os seguidores de Jesus. O entusiasmo pelos milagres arrefece com a morte de Jesus e leva-os a abandonar o seguimento. A experiência de Emáus faz retomar o caminho de volta para o testemunho.

Na Eucaristia de hoje, ao ouvir as primeiras palavras do Evangelho, compreendi mais vivamente que o testemunho se dá após profunda experiência em que e em quem se acredita. Ao partir do pão, acreditaram que Jesus estava vivo, que Jesus não os abandonara e voltaram para contar aos irmãos o que tinha acontecido no “caminho”...

Desejo a todos os que estão a “caminho” encontrem alguém que lhes permita um diálogo de descoberta, que possibilite uma experiência para uma vida de testemunho.

Andarilhos pela estrada ou peregrinos a caminho?

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