quinta-feira, 22 de abril de 2010

EM TEMPO ALGUM

Caíra a noite e o viajante pedia socorro a Deus.
Sentia-se doente.
Longa fora a caminhada.
Doía-lhe o corpo.
Estava exausto.
Orando sempre, encontrou árvore acolhedora que lhe pareceu
agasalhante refúgio.
No pé do tronco anoso, grande cova caprichosamente forrada de
raízes era leito ao luar.
- Oh! - suspirou o viajante fatigado - Deus ouviu-me! Afinal o repouso!
Ajoelhou-se e ia estender o manto roto no chão, quando
verdadeira nuvem de maruins surgiu no assalto.
Picadas na cabeça, no rosto, nas mãos, nos pés.
E eram tantos os dardos vivos e volantes em derredor que o
pobre recuou espavorido, para dormir ao relento, entre pedras e
espinheiros da retaguarda.
De corpo dorido, pensava desalentado:
- Tolo que sou de acreditar na oração! Estou sozinho! Nada de Deus!
Na manhã seguinte, porém, retomando a marcha, voltou à árvore
do caminho e, somente aí, reconheceu, admirado, que a grande cova de
que fora obrigado a afastar-se era moradia de vários escorpiões.

Não descreia da prece em tempo algum. E nos casos em que você
encontre empecilhos para possuir o a que mais aspira, guarde, entre
aborrecimentos e provações, a certeza de que, muitas vezes, o que lhe
parece uma situação invejável não passa de ninho enganador, onde se
ocultam os lacraus da morte.

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