sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Inteligência emocional - Conhecimento próprio

Tales de Mileto, aquele pensador da Grécia antiga, considerado
como o primeiro filósofo conhecido de todos os tempos,
há 2.600 anos escreveu que a coisa mais difícil do mundo
é conhecer-nos a nós mesmos, e a mais fácil é falar mal
dos demais.
No templo de Delfos, podia-se ler aquela famosa inscrição
socrática - gnosei seauton: conhece-te a ti mesmo -, que nos
faz recordar uma idéia parecida.
Conhecer-se bem a si mesmo representa um primeiro e importante
passo para que se consiga ser o artífice da própria vida; talvez,
por isso, tenha sido proposto como um grande desafio ao ser
humano, ao longo dos séculos.
Deveríamos nos perguntar com certa freqüência (e com objetividade):
como é o meu caráter?
Isto, porque é surpreendente como nos saímos beneficiados ao juízo
de nossos próprios olhos.
Quase sempre somos absolvidos pelo tribunal do nosso próprio
coração, aplicando-nos a lei a partir dos nossos pontos de vista,
e deixando as exigências para os demais.
Até para os erros mais evidentes encontramos facilmente uma
enorme quantidade de atenuantes, de paliativos, de desculpas,
de justificações.
Se somos assim, e parecemos cegos com relação aos nossos próprios
defeitos, como é possível melhorar?
Melhoraremos procurando conhecer-nos melhor.
Escutando de bom grado a crítica construtiva que nos vão fazendo
em qualquer ocasião.
Entretanto isso só se aprende quando alguém é capaz de dizer
a si mesmo, francamente, as coisas, quando é capaz de confessaras
verdades a si mesmo.
Procure conhecer quais são seus maiores defeitos.
Procure subjugar essa paixão desordenada que sobressai
dentre as demais, pois deste modo se torna mais fácil
vencer, em seguida, as restantes.
Para um, seu vício capital será a busca permanente do comodismo,
porque foge do trabalho com verdadeiro terror; para outro,
talvez seja o seu mau gênio ou seu amor próprio exagerado,
ou ainda a sua cabeça-dura; para um terceiro, o seu principal
problema é a superficialidade ou a frivolidade de
seus posicionamentos.
Pense, agora, você.
Cada um dos seus defeitos é um foco de deteriorização do seu caráter.
Se não os vencer a tempo, se não lhes puser limites, você poderá
se sair mal no jogo da vida.
Talvez o que torna mais delicada a formação do caráter seja
precisamente o fato de tratar-se de uma tarefa que requer
anos a fio, dezenas de anos.
Esta é a principal dificuldade.
Toth comparava este trabalho ao da formação de um cristal, a
partir de uma dissolução saturada vai secando.
As moléculas vão-se ordenando lentamente, de acordo com
leis misteriosas, através de um processo que pode durar horas,
meses, ou muitos anos.
Os cristais vão-se tornando cada vez maiores e constituindo
formas geométricas perfeitas, segundo sua natureza...,
e, claro, sempre que nenhum agente externo atrapalhe a marcha
desse lento e delicado processo de cristalização.
Porque um estorvo pode fazer com que, em vez de um magnífico
cristal, surja um mero amontoado de pequenos
cristais deformados.
Pode ser este o principal erro de muitos jovens, ou, quem sabe,
de seus pais:
pensar que aqueles reiterados obstáculos no caminho da
delicada cristalização de seu espírito eram algo sem importância.
E quando percebem que tinham resultado em um caráter
distorcido e deformado, já quase não havia remédio.
Haverá, então, no caráter, coisas que não têm mais remédio?
Sempre estaremos em tempo de remediar qualquer situação.
Nenhuma, por terrível que nos pareça, determina um beco sem saída.
O que não se deve ignorar é que há dificuldades que deixam
marcas, que supõem todo um caminho equivocado morro abaixo,
que precisa ser desandado penosamente.
Pense nesses maus hábitos, nessa teimosia que enquanto criança
parecia graciosa e agora tornou-se mais espinhosa e mais dura.
Pense em como você age para dominar o seu mau gênio, em
como suporta a contrariedade.
Pense se você não tem sido um cacto.
Porque os cactos surgem em todas as almas, mas é questão de
saber eliminá-los quando ainda são plantas tenras.
A educação supõe essa solicitude e essa luta contínua.
Procure reparar nas coisas boas dos outros, porque sempre existem.
E quando encontrar defeitos, ou algo que lhe pareça serem defeitos,
pense se não os encontra - a esses mesmos - também em sua própria vida.
Porque é comum vermos:
- um chorão, que se queixa por que os outros se queixam;
- um falador exaustivo, que protesta porque os outros falam demais;
- um demasiado individualista no futebol, que, no entanto, se queixa
de que os outros não lhe passam a bola;
- alguém que condena com azedume os erros de seus companheiros
e, vai ver, falha mais que os outros;
- o típico personagem irascível, que se descabela ante o mau
gênio dos demais.
Por que tudo isso?
Talvez seja porque, efetivamente - não se sabe em virtude de
que misteriosa tendência -, nós projetamos nos outros os
nossos próprios defeitos.
O auto-conhecimento é muito útil também para se aprender
a lidar com os demais.
Existem, por exemplo, pais impacientes, dos quais se ouvem
com freqüência frases como:
"eu já disse a essa criatura pelo menos quarenta
vezes que... , e não tem jeito"
Seria o caso de lhe perguntar:
bem, mas e você?
Não lhe sucede que também tenha se proposto quarenta vezes
muitas coisas que depois não consegue fazer?
Quer dizer que não podemos exigir nada dos filhos, porque
somos piores do que eles?
Não, não se trata disso.
Porém, quando alguém é consciente de seus próprios defeitos,
a missão de educar pode ser encarada, não raro, como uma tarefa
que inclui bastante companheirismo.
Assim, celebra o sucesso do outro.
E sabe desculpar e dissimular o fracasso do outro, porque se
confia em que também advirão tempos de vitória para ele.
Por isso não há nada de mal em termos presentes nossas falhas
e nossos erros na hora de corrigir, para saber conjugar bem
a exigência com a compreensão.

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