segunda-feira, 15 de março de 2010

Rua Sem Números

Já havia alguns dias que a mãe observava seu filho de 5 anos.
Ele passava os dias todos escrevendo coisas que ela não conseguia ler.

" Posso saber o que você escreve? " , às vezes perguntava.
Ele respondia :
" Só quando o pedido estiver pronto ".

Diziam-lhe os amigos :
" Deixe pra lá ... crianças têm suas fantasias,
daqui a pouco isso passa e ele logo irá para outra brincadeira ".

Passaram mais alguns dias até que, finalmente, muito feliz ,
o menino aproximou-se dela e disse :
" Está pronto, mãe! Só falta por no correio! "

" Para onde você vai enviar? " ,
perguntou ela , sorrindo.

- Para o céu .
A senhora coloca o endereço no envelope pra mim?

- Por que você mesmo não coloca?

- Porque se no correio todos lerem igual à senhora, não vão entender.

- Qual é o endereço?

- Rua dos Anjos, s/nº.
Céu.

Sentindo-se tola e sorrindo intimamente,
ela escreveu o endereço num envelope e colocou dentro dele
o papel cuidadosamente dobrado.

" Vou brincar lá fora ", disse ele.
" A senhora põe isso no correio? "

- Ponho, sim. Pode ir.

Assim que o menino saiu , ela escondeu o envelope numa gaveta,
planejando carinhosamente mostrá-lo ao filho
quando ele já estivesse adulto.

No dia seguinte alguém chamou na porta.
Ela viu uma pequena caminhonete e um homenzinho anunciou :
" Vim entregar a bicicleta e a televisão! "

- Só pode ser engano, senhor. Nós não compramos nada.

O menino, ainda sonolento, gritou de dentro da casa :
" Pode receber, mãe!
É a entrega do que pedi na carta que a senhora colocou no correio!
Eu pedi uma bicicleta e a sua televisão! "

Não acreditando no que via e ouvia, ela olhou para as caixas
e nas etiquetas do Remetente leu :

Rua dos Anjos, s/nº.
Céu.

Sem comentários: