Um companheiro amargurado por desgostos no cotidiano certa feita, através de emissora interiorana, ouviu a voz empolgante de um professor de otimismo que lhe cativou a atenção e a simpatia.
De três em três dias, ei-lo prostrado junto ao receptor, a fim de registrar os conceitos do orientador distante.
Tão admirado se viu com as respostas com que o prestimoso amigo reconfortava e instruía aos ouvintes, que lhe dirigiu a primeira carta, solicitando-lhe auxílio para sanar as inquietações de que se reconhecia objeto.
Entusiasmado com os apontamentos que obtinha pelo sem fio, confiou-se à copiosa correspondência, na qual se expunha ao mentor, rogando-lhe as opiniões que chegavam, sempre sinceras e sensatas.
Aquele homem, cujas palavras de paz e compreensão se espalhavam pelo rádio, devia conhecer as mais intrincadas questões humanas.
Para quaisquer indagações, expedia a resposta exata e tanto adentrou na faixa dos pensamentos novos que lhe eram endereçados que o amigo, dantes fatigado e pessimista, observou-se
curado da angústia crônica que o possuía.
Renovado e feliz, deliberou exteriorizar a gratidão que lhe vibrava nos recessos do ser, procurando abraçar o benfeitor pessoalmente.
Combinaram dia e hora para o encontro e o beneficiado despendeu oito horas, em automóvel, varando estradas difíceis, de modo a reverenciar o professor que lhe reabilitara as forças para a vida.
Só então, depois de atingir a cidade para a qual se dirigia, entre consternação e júbilo, conseguiu avista-lo, verificando, por fim, que o distinto radialista, que lhe devolvera a alegria de viver e trabalhar, era paralítico e cego.
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