sábado, 14 de novembro de 2009

EDUCAR

Educar é mostrar a vida a quem ainda não a viu.
O educador diz: "Veja!" - e, ao falar, aponta.
O aluno olha na direção apontada e vê o que
nunca viu. Seu mundo se expande. Ele fica mais rico interiormente...
E, ficando mais rico interiormente, ele pode sentir mais alegria e dar
mais alegria - que é a razão pela qual vivemos.

Já li muitos livros sobre psicologia da
educação, sociologia da educação, filosofia da educação -
mas, por mais que me esforce, não consigo me
lembrar de qualquer referência à educação do olhar ou à importância do
olhar na educação, em qualquer deles.

A primeira tarefa da educação é ensinar a
ver. É através dos olhos que as crianças tomam contato com
a beleza e o fascínio do mundo. Os olhos têm
de ser educados para que nossa alegria aumente.

A educação se divide em duas partes: educação
das habilidades e educação das sensibilidades. Sem a educação das
sensibilidades, todas as habilidades são tolas e sem sentido. Os
conhecimentos nos dão meios para viver. A sabedoria nos dá razões para
viver.

Quero ensinar as crianças. Elas ainda têm
olhos encantados. Seus olhos são dotados daquela qualidade que, para
os gregos, era o início do pensamento:... a capacidade de se assombrar
diante do banal. Para as crianças, tudo é espantoso: um ovo, uma
minhoca, uma concha de caramujo, o vôo dos urubus, os pulos dos
gafanhotos, uma pipa no céu, um pião na terra. Coisas que os eruditos
não vêem.

Na escola eu aprendi complicadas
classificações botânicas, taxonomias, nomes latinos - mas esqueci. Mas
nenhum professor jamais chamou a minha atenção para a beleza de uma
árvore ou para o curioso das simetrias das folhas. Parece que, naquele
tempo, as escolas estavam mais preocupadas em fazer com que os alunos
decorassem palavras que com a realidade para a qual elas apontam.

As palavras só têm sentido se nos ajudam a
ver o mundo melhor. Aprendemos palavras para melhorar os olhos. As
palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Há muitas
pessoas de visão perfeita que nada vêem. O ato de ver não é coisa
natural. Precisa ser aprendido. Quando a gente abre os olhos, abrem-se
as
janelas do corpo, e o mundo aparece refletido
dentro da gente.

São as crianças que, sem falar, nos ensinam
as razões para viver. Elas não têm saberes a transmitir. No entanto,
elas sabem o essencial da vida. Quem não muda sua maneira adulta de
ver e sentir e não se torna como criança jamais será sábio.

As crianças não têm idéias religiosas, mas
têm experiências místicas. Experiência mística não é ver seres de um
outro mundo. É ver este mundo iluminado pela beleza.

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