Tira-me o pão,
se quiseres,
tira-me o ar,
mas não me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito brota da tua alegria,
a repentina onda de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas as portas da vida.
Meu amor,
nos momentos mais escuros solta o teu riso
e se de súbito vires que o meu sangue mancha as pedras da rua,
ri,
porque o teu riso será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
À beira do mar,
no outono,
teu riso deve erguer sua cascata de espuma,
e na primavera,
amor,
quero teu riso como a flor que esperava,
a flor azul,
a rosa da minha pátria sonora.
Ri-te da noite,
do dia,
da lua,
ri-te das ruas tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro rapaz
que te ama,
mas quando abro os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão,
o ar,
a luz,
a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.
domingo, 28 de outubro de 2007
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