sexta-feira, 26 de setembro de 2008

AO ENTARDECER

Mais tarde, servo que descansas,

Quando a sombra, envolver-te os olhos fatigados,

A noção do tempo crescerá em tua alma

E o senhor da vinha

Dir-te-á do monte da consciência:



- Que fizeste da tua luz?

Onde guardaste os raios do Sol,

As gotas do orvalho,

As sementes divinas,

O arado amigo e realizador?

Que fizeste do meio-dia rutilante

Onde deixaste

Os rebentos novos,

As febres opulentas,

Os frutos generosos

A dádiva do suor?

Contemplarás as mãos vazias,

Suportarás o coração tocado de remorso

E dirás, em obediência

Ao antigo hábito de enganar a ti mesmo:



- O Sol causticante crestou a terra do meu campo,

Chuvas copiosas trouxeram imensas inundações...

Vermes invasores destruíram a erva tenra,

Serpentes venenosas atacavam-me os pés.

Aos espinheiros que se erguiam acima do solo

Respondiam pedras em baixo,

Anulando-me a tarefa...

Se surgiam alguns brotos na encosta,

A Lama descia célere...

Se rebentos humildes vinham à planície,

Os detritos da serra

Formavam pântanos implacáveis

Aniquilando-me a sementeira.

Que poderia fazer, então,

Se todas os perigos da Natureza congregavam-se contra mim?



O Senhor da Vinha, porém,

Ouvirá complacente

E, antes de tornar

Ao seu próprio trabalho,

No campo universal e infinito dos séculos,

Responderá:

- Não te queixes.



O Sol causticante,

A chuva torrencial

os vermes e as serpentes,

OS espinhos e as pedras,

A Lama e o pântano,

Eram as ferramentas que te dei...

Mas... espera! Outro dia virá!...



Tentarás justificar-te, inda uma vez;

Todavia,

O último raio de Sol desperdir-se-á do céu

E o rosto do Senhor

Desaparecerá no grande silêncio.

E então errarás de vale em vale, de montanha em montanha,



Sangrando o coração sob ríspido açoite,

Angustiado e sozinho,

Porque no teu caminho

Reinará, longo tempo, enorme e espessa noite!...

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