quarta-feira, 29 de outubro de 2008

O CULTO CRISTÃO NO LAR

Povoara-se o firmamento de estrelas, dentro da noite prateada de luar,
quando o Senhor, instalado provisoriamente em casa de Pedro, tomou os
Sagrados Escritos e, como se quisesse imprimir novo rumo à conversação que
se fizera improdutiva e menos edificante, falou com bondade:

-Simão , que faz o pescador quando se dirige para o mercado com os frutos de
cada dia?

O apóstolo pensou alguns momentos e respondeu, hesitante:
-Mestre, naturalmente, escolhemos os peixes melhores. Ninguém compra
resíduos da pesca.

Jesus sorriu e perguntou, de novo:

-E o oleiro? Que faz para atender à tarefa a que se propõe?

-Certamente, Senhor – redargüiu o pescador, intrigado -, modela o barro,
imprimindo-lhe a forma que deseja.

O amigo Celeste, de olhar compassivo e fulgurante, insistiu:
-E como procede o carpinteiro para alcançar o trabalho que pretende?
O interlocutor, muito simples, informou sem vacilar:
-Lavará a madeira, usará a enxó e o serrote, o martelo e o formão. De outro
modo, não aperfeiçoará a peça bruta.

Calou-se Jesus, por alguns instantes, e aduziu:

- Assim também, é o lar diante do mundo.

O berço doméstico é a primeira escola e o primeiro templo da alma. A casa do
homem é a legítima exportadora de caracteres para a vida comum.

Se o negociante seleciona a mercadoria, se o marceneiro não consegue fazer
um barco sem afeiçoar a madeira aos seus propósitos, como esperar uma
comunidade segura e tranqüila sem que o lar se aperfeiçoe? A paz do mundo
começa sob as telhas a que nos acolhemos. Se não aprendemos a viver em paz,
entre quatro paredes, como aguardar a harmonia das nações? Se nos não
habituamos a amar irmão mais próximo, associado à nossa luta de cada dia,
como respeitar o Eterno Pai que nos parece distante?

Jesus relanceou o olhar pela sala modesta, fez pequeno intervalo e
continuou:

- Pedro, acendamos aqui, em torno de quantos nos procuram a assistência
fraterna, uma claridade nova. A mesa de tua casa é o lar de teu pão.

Nela, recebes do Senhor o alimento para cada dia. Por que não instalar, ao
redor dela, a sementeira da felicidade e da paz na conversação e no
pensamento? O Pai, que nos dá o trigo para o celeiro, através do solo,
envia-nos a luz através do céu. Se a claridade é a expansão dos raios que
constituem, a fartura começa no grão. Em razão disso, o Evangelho não foi
iniciado sobre a multidão, mas, sim, no singelo domicílio dos pastores e dos
animais.

Simão Pedro fitou no Mestre os olhos humildes e lúcidos e, lúcidos e, como
não encontrasse palavras adequadas para explicar-se, murmurou, tímido:

-Mestre, seja feito como desejas.

Então Jesus, convidando os familiares do apóstolo à palestra edificante e à
meditação elevada, desenrolou os escritos da sabedoria e abriu, na Terra, o
primeiro culto cristão do lar.

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