Não é raro que, na ânsia de fazer o bem, nos
disponhamos a dar coisas, distribuir alimentos.
Não é raro também se ouvir frases de decepção,
do tipo: As pessoas nunca estão satisfeitas.
Se ofereço sopa, elas perguntam se
não há algo mais.
Se distribuo roupas, reclamam da
cor e do modelo.
Ou ainda:
Acredita que o andarilho falou que
não queria o cobertor?
Essas situações nos remetem a uma
outra, vivida no século passado,
durante a revolução cultural da China.
Fang era uma pessoa compreensiva e
receptiva a novas idéias.
Uma das grandes realizações dos
Guardas Vermelhos fora a criação
de escolas noturnas, cujo objetivo
era transmitir aos
camponeses as idéias
comunistas de Mao.
Todos recebiam cópias do Livro Vermelho.
Fang era analfabeta.
Por isso, dois jovens e entusiasmados Guardas Vermelhos
decidiram ensiná-la a ler.
Ela nunca chegou a reconhecer palavras isoladas.
Mas, conseguiu memorizar parágrafos inteiros dos
ensinamentos de Mao.
Enquanto lavava a roupa, limpava a casa, costurava ou
cozinhava, seus lábios se moviam.
Ela recitava, em silêncio, passagens do Livro Vermelho.
Por isso, foi considerada uma aluna-modelo.
Pouco tempo passado, duas jovens da Brigada Vermelha
foram visitá-la.
Desejavam verificar seus progressos na leitura.
Fang disse que estava ocupada, que elas voltassem depois.
Naquela manhã, o carvão usado se recusava a acender e o
pequeno cômodo estava tomado pela fumaça.
As moças se foram, mas, voltaram logo depois, insistindo
que era preciso verificar se a senhora entendera os
ensinamentos do Livro Vermelho de Mao.
Tinham de entregar, naquela noite, um relatório ao líder do grupo.
Fang ficou impaciente.
Ela pediu que uma das moças assumisse seu lugar na
cozinha, que a outra tentasse acender o fogo.
Elas se entreolharam confusas.
Então, a camponesa desabafou:
Eu poderia passar todos os dias, por todo o resto da
minha vida, decorando os ensinamentos de Mao.
Mas quero saber: Quem vai arrumar, limpar e cozinhar?
Quem vai dar banho nos meus sete filhos, costurar as
roupas deles, preparar três refeições por dia,
todo santo dia?
Quem vai fazer mágica para conseguir cozinhar?
Vocês pensam que as palavras do Presidente Mao
enchem barriga?
Se vocês vierem aqui todos os dias para
me ajudar nas minhas tarefas,
eu aprendo o que quer que
queiram me ensinar.
E muito mais.
As moças foram embora, sem dizer nada.
E nunca mais voltaram àquela casa.
* * *
Desejando fazer o bem, analise o que
especialmente as pessoas que você
pensa auxiliar, necessitam.
Algumas carecem de pão, outras
necessitarão agasalho.
Alguém pedirá que você lhe
decifre o alfabeto.
Outro mais desejará dinheiro para
se locomover a determinado local.
Aquele sonha em freqüentar
bancos escolares.
Pense nisso: o importante não é dar.
É dar com sabedoria a cada um
aquilo de que carece e anseia.
Desta forma,
o seu benefício
alcançará superiores
objetivos, suprindo
a real necessidade.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário