sábado, 3 de janeiro de 2009

Sabedoria na doação

Não é raro que, na ânsia de fazer o bem, nos

disponhamos a dar coisas, distribuir alimentos.
Não é raro também se ouvir frases de decepção,

do tipo: As pessoas nunca estão satisfeitas.
Se ofereço sopa, elas perguntam se

não há algo mais.

Se distribuo roupas, reclamam da

cor e do modelo.

Ou ainda:

Acredita que o andarilho falou que

não queria o cobertor?
Essas situações nos remetem a uma

outra, vivida no século passado,

durante a revolução cultural da China.
Fang era uma pessoa compreensiva e

receptiva a novas idéias.
Uma das grandes realizações dos

Guardas Vermelhos fora a criação

de escolas noturnas, cujo objetivo

era transmitir aos

camponeses as idéias

comunistas de Mao.
Todos recebiam cópias do Livro Vermelho.
Fang era analfabeta.

Por isso, dois jovens e entusiasmados Guardas Vermelhos

decidiram ensiná-la a ler.
Ela nunca chegou a reconhecer palavras isoladas.

Mas, conseguiu memorizar parágrafos inteiros dos

ensinamentos de Mao.

Enquanto lavava a roupa, limpava a casa, costurava ou

cozinhava, seus lábios se moviam.
Ela recitava, em silêncio, passagens do Livro Vermelho.

Por isso, foi considerada uma aluna-modelo.
Pouco tempo passado, duas jovens da Brigada Vermelha

foram visitá-la.

Desejavam verificar seus progressos na leitura.
Fang disse que estava ocupada, que elas voltassem depois.
Naquela manhã, o carvão usado se recusava a acender e o

pequeno cômodo estava tomado pela fumaça.
As moças se foram, mas, voltaram logo depois, insistindo

que era preciso verificar se a senhora entendera os

ensinamentos do Livro Vermelho de Mao.
Tinham de entregar, naquela noite, um relatório ao líder do grupo.
Fang ficou impaciente.

Ela pediu que uma das moças assumisse seu lugar na

cozinha, que a outra tentasse acender o fogo.
Elas se entreolharam confusas.

Então, a camponesa desabafou:
Eu poderia passar todos os dias, por todo o resto da

minha vida, decorando os ensinamentos de Mao.
Mas quero saber: Quem vai arrumar, limpar e cozinhar?
Quem vai dar banho nos meus sete filhos, costurar as

roupas deles, preparar três refeições por dia,

todo santo dia?
Quem vai fazer mágica para conseguir cozinhar?
Vocês pensam que as palavras do Presidente Mao

enchem barriga?
Se vocês vierem aqui todos os dias para

me ajudar nas minhas tarefas,

eu aprendo o que quer que

queiram me ensinar.

E muito mais.
As moças foram embora, sem dizer nada.

E nunca mais voltaram àquela casa.

* * *

Desejando fazer o bem, analise o que

especialmente as pessoas que você

pensa auxiliar, necessitam.
Algumas carecem de pão, outras

necessitarão agasalho.

Alguém pedirá que você lhe

decifre o alfabeto.
Outro mais desejará dinheiro para

se locomover a determinado local.

Aquele sonha em freqüentar

bancos escolares.
Pense nisso: o importante não é dar.

É dar com sabedoria a cada um

aquilo de que carece e anseia.
Desta forma,

o seu benefício

alcançará superiores

objetivos, suprindo

a real necessidade.

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