quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Das águas mansas

Das águas mansas do lago de Genesaré parecia-lhe emanarem suavíssimos
perfumes, casando-se deliciosamente aoa aroma agreste da folhagem.

Foi nesse instante que, com o espírito como se estivesse sob o império de
estranho e suave magnetismo, ouviu passos brandos de alguém que buscava
aquele sítio.

Diante de seus olhos ansiosos, estacara personalidade inconfundível e única.
Tratava-se de um homem ainda moço, que deixara transparecer nos olhos,
profundamente misericordiosos, uma beleza
suave e indefinível. Longos e sedosos cabelos molduravam-lhe o semblante
compassivo,como se fôssem fios castanhos, levemente dourados por luz
desconhecida. Sorriso divino, revelando ao mesmo
tempo bondade imensa e singular energia, irradiava da sua melancólica e
majestosa figura uma fascinação irresistível.

Públio Lentulus não teve dificuldades em identificar aquela criatura
impressionante,mas, no seu coração marulhavam ondas de sentimento que, até
então eram ignorados. Nem a sua apresentação
a Tibério, nas magnificências de Capri, lhe havia imprimido tal emotividade
ao coração. Lágrimas ardentes rolaram-lhe dos olhos, que raras vezes haviam
chorado, e força misteriosa e invencível fê-lo
ajoelhar-se na relva lavada em luar. Desejou falar, mas tinha o peito
sufocado e opresso. Foi quando,
então, num gesto de doce e soberana bondade, o meigo NAZARENO caminhou para
ele, qual visão
concretizada de um dos deuses de suas antigas crenças, e, pousando
carinhosamente a destra em
sua fonte, exclamou em linguagem encantadora, que Públio entendeu
perfeitamente, como se ouvisse o idioma patrício, dando-lhe a inesquecível
impressão de que a palavra era de espírito para espírito, de coração para
coração:

- Senador, porque me procuras?

Sem comentários: