domingo, 21 de junho de 2009

Família

A família consangüínea, entre os homens, pode ser apreciada como o centro essencial de nossos reflexos. Reflexos agradáveis ou desagradáveis que o pretérito nos devolve. Certo, não incluímos aqui os Espíritos pioneiros da evolução que, trazidos ao ambiente comum, superam-no, de imediato, criando o clima mental que lhes é peculiar,
atendendo à renovação de que se fazem intérpretes.
Comentamos a nossa posição no campo vulgar da luta.
Cada criatura está provisoriamente ajustada ao raio de ação que é capaz de desenvolver ou, mais claramente, cada um de nós apenas, pouco a pouco, ultrapassará o horizonte a que já estenda os reflexos que lhe digam respeito.
O homem primitivo não se afasta, de improviso, da própria taba, mas aí renasce múltiplas vezes, e o homem relativamente civilizado demora-se longo tempo no plano racial em que assimila as experiências de que carece, até que a soma de suas aquisições o recomende a diferentes realizações.
É assim que na esfera do grupo consangüíneo o Espírito reencarnado segue ao encontro dos laços que entreteceu para si próprio, na linha mental em que se lhe caracterizam as tendências.
A chamada hereditariedade psicológica é, por isso, de algum modo, a natural aglutinação dos espíritos que se afinam nas mesmas atividades e inclinações.
Um grande artista ou um herói preeminente podem nascer em esfera estranha aos sentimentos nos quais se avultam. É a manifestação do gênio pacientemente elaborado no bojo dos milênios, impondo os reflexos da sua individualidade em gigantesco trabalho criativo.
Todavia, na senda habitual, o templo doméstico reúne aqueles que se retratam uns nos outros.
Uma família de músicos terá mais facilidade para recolher companheiros da arte divina em sua descendência, porque, muita vez, os Espíritos que assumem a posição de filhos na reencarnação, junto deles, são os mesmos amigos que lhes incentivavam a formação musical, desde o reino do Espírito, refletindo-se reciprocamente na continuidade de da ação em que se empenham através de séculos numerosos.
É ainda assim que escultores e poetas, políticos e médicos, comerciantes e agricultores quase sempre se dão as mãos, no culto dos melhores valores afetivos, continuando-se, mutuamente, nos genes familiares, preservando para si mesmos, mediante o trabalho em comum e segundo a lei do renascimento, o patrimônio evolutivo em que se exprimem no espaço e no tempo. Também é aí, de conformidade com o mesmo principio de sintonia, que vemos dipsômanos e cleptomaníacos, tanto quanto delinqüentes e enfermos de ordem moral, nascendo daqueles que lhes comungam espiritualmente as deficiências e as provas, porquanto muitas inteligências transviadas se ajustam ao campo genético daqueles que lhes atraem a companhia, por força dos sentimentos menos dignos ou das ações deploráveis com que se oneram perante a Lei.
A tara familiar, por esse motivo, é a resultante da conjunção de débitos, situando-nos no plano genético enfermiço que merecemos, à face dos nossos compromissos com o mundo e com a vida. Dessa forma, somos impelidos a padecer o retorno dos nossos reflexos tóxicos através de pessoas de nossa parentela, que no-los devolvem por aflitivos processos de sofrimento.
Temos assim, no grupo doméstico, os laços de elevação e alegria que já conseguimos tecer, por intermédio do amor louvavelmente vivido, mas também as algemas de constrangimento e aversão, nas quais recolhemos, de volta, os clichês inquietantes que nós mesmos plasmamos na memória do destino e que necessitamos desfazer, à custa de trabalho e sacrifício, paciência e humildade, recursos novos com que faremos nova produção de reflexos espirituais, suscetíveis de anular os efeitos de nossa conduta anterior, conturbada e infeliz.

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