terça-feira, 8 de julho de 2008

A Aparência e o Caráter

"Preocupe-se mais com o seu caráter do que com sua reputação, porque o caráter é o que você é, e a reputação é o que os outros pensam de você."

John Wooden



As aparências enganam. Este ditado popular é mais profundo do que se imagina, principalmente na nossa sociedade de consumo, de massa, onde os valores morais, os princípios éticos cedem lugar a um pragmatismo desumano e cruel.

Não que a aparência não seja importante. Penso que, na declaração dos direitos humanos, deveria ser incluído o sagrado direito à beleza com todas as implicações necessárias. O acesso a cirurgias plásticas, por exemplo, deveria ser popularizado, ao invés de ficar restrito à elite e ser visto como algo fútil. O direito a uma cidade bonita, a espaços urbanos bem cuidados, a uma arquitetura digna deste nome, a programas televisivos tão elegantes quanto éticos, enfim, o direito ao belo e, quem sabe, como diria Kant, ao sublime.

Afinal, mesmo que a matéria seja sempre a mesma, imutável talvez em sua estrutura, a forma varia ao infinito, o formato evolui conjuntamente com a inteligência. Forma e estrutura, inteligência e matéria, evoluem, infinitamente, segundo a filosofia espírita. Espíritos mais elevados são bonitos, no formato e na estrutura, no conteúdo. Não é à-toa que no imaginário popular arcanjos e serafins sejam brancos, loiros, de olhos azuis e com asas esplendorosas. Todavia, nunca vi um anjo com cara de índio, negro ou mestiço. O nosso ideal de beleza ainda é o helênico, meio ariano, estereotipado pelos padrões fashion, oriundos do Primeiro Mundo.

Sempre achei o ideal de raça pura uma idiotice. Os mestiços são sempre mais bonitos. A miscigenação será sempre desejável em uma sociedade livre, aberta e democrática, conceito que não se aplica a muitos países desenvolvidos onde os segmentos sociais, étnicos, são estanques.

Os romanos, já em seu tempo, sabiam muito bem a importância da aparência. Um provérbio popular da época explicita bem isto: "A mulher de César, não basta somente ser honesta, tem que parecer honesta". Os romanos valorizavam muito a forma, mas esqueceram do conteúdo, do caráter.

Como diz o nosso amigo da epígrafe, nossa preocupação maior deveria ser com a modelagem do caráter. Não há estrutura que se sustente, por mais perfeita que seja, se nela estão pessoas sem caráter, sem preceitos morais, sem uma ética de princípios. A mudança do meio e do ser humano tem que ser concomitante. Querer apenas mudar o indivíduo, esperando que as estruturas assim se transformem é ingenuidade. E querer apenas mudar a estrutura sem mudar as pessoas é uma fantasia.

Em uma sociedade como a nossa, onde a imagem, a visibilidade, a aparência são tão valorizadas, fica difícil seguir na contramão desse tipo de princípio. Mas é justamente isso que o Espiritismo propõe. Ser espírita num mundo como o nosso significa ficar indignado 24 horas por dia com as injustiças, a exploração, a discriminação, com a extrema valorização da aparência, em detrimento do conteúdo. Trata-se de um desafio, possível de ser colocado em prática.

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