Difícil é falar-se de ira quando só o que se deseja é falar de amor.
"O amor resume a doutrina de Jesus toda inteira." (E.S.E. cap. XI, nº 8), e dos ensinamentos do
Mestre, o que se transmite dos púlpitos é a mansuetude e a docilidade como sendo a única forma de
se praticar o amor.
Claro que Jesus não odiou. Até no último instante que esteve entre nós, pediu ao Pai que
perdoasse a quem lhe fazia o mal, porque não sabiam o que faziam. Ensinou e
exemplificou o amor em todas as circunstâncias: "Perdoai, não sete vezes, mas setenta vezes sete
vezes. (Mt. 18.21 e 22) "Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam e orai
pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de serdes filhos do vosso Pai que está nos céus e que
faz que se levante o Sol para os bons e para os maus e que chova sobre os justos e os injustos."
(Mt. 5.44 e 45). "Os sãos não precisam de médicos, e, sim, os doentes. Não vim chamar os justos,
e, sim, os pecadores ao arrependimento." (Lc 5.31 e 32). "Porque o Filho do Homem veio salvar o
que estava perdido."(Lc. 18.11). Tudo o que disse que fizéssemos, primeiro fez.
O autor de "Oração aos Moços" - Ruy Barbosa - entretanto, fala da ira; diz que a ira contra o mal é
entusiasmo divino, e cita o padre Manuel Bernardes quando pregava, numa das suas "Silvas".
"Nem pode haver ira, sem haver pecado. E as vezes poderá haver pecado, se não houver ira,
porquanto o silêncio fomenta a negligência dos maus, e tenta a perseverança dos bons".
Ruy prossegue: "Nem toda ira, pois, é maldade; porque a ira, se, as mais das vezes, rebenta
agressiva e daninha, muitas outras, oportuna e necessária, constitui o específico da cura. Ora deriva
da tentação infernal, ora da inspiração religiosa. Comumente se acende em sentimentos
desumanos e paixões cruéis; mas não raro flameja do amor santo e da verdadeira caridade.
Quando um esbraveja contra o bem, que não entende, ou que o contraria, é ódio iroso, ou ira
odienta. Quando verbera o escândalo, a brutalidade, ou o orgulho, não é agrestia rude, mas
exaltação virtuosa; não é soberba, que explode, mas indignação que ilumina; não é raiva
desaçaimada, mas correção fraterna. Então, não somente não peca o que se irar, mas pecará, não
se irando" - (Oração aos Moços - Ruy Barbosa - Livraria Progresso Editora, Salvador - BA - 1956).
O mestre Jesus, em algumas de suas indignações que iluminavam, definiu como hipócritas, raça
de víboras, geração má e adúltera, não só os vendilhões do templo, como os falsos profetas e os
"que gostam de andar de vestes talares e das saudações nas praças; e das primeiras
cadeiras nas sinagogas e dos primeiros lugares nos banquetes; os que devoram as casa das viúvas
e, para o justificar, fazem longas orações".(Mc 12.38 a 40).
Perdoemos ilimitadamente, mas não compactuemos com o mal para que não sejamos obstáculos
à luz de Jesus, a fim de não causarmos sombra no caminho dos que, despertando, queiram segui-lo.
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