sábado, 20 de outubro de 2007

Negro

As marcas que as correntes conceberam,
na pele sensível, luzente e negra,
dos que perceberam,
que o que se faz luz de fato,
não se aplica ao colorido da tez,
marcou numa raça,
sintomas de desgraça,
que hoje ainda perspassam,
e se alojam em um sentimento magoado...
Que infelizmente ficou feito espinho encravado,
na história que a seguir se fêz...
Chamam-me tôsco...
Cor de nada.
Lusco-fusco, tez embaralhada...
Enfim,
em verdade vos digo que até hoje,
o açoite se abate sobre mim,
empunhado pelas leis,
idiotas e mesquinhas,
dos pulhas que se outorgam doutos,
no resolver abjeto de podarem seres soltos,
apriosionando-os,
e liberando seres alvos e esquálidos ,
que financiam o tráfico,
e matam com frieza e sordidez.
São os chefes da banca,
os que dão aos que destrói os corpos,
a verdadeira solidez...
Dinheiro cão!
Apossaram-se de nossas fantasias,
e fizeram-nos ervas daninhas...

A beleza da negritude,
não meneia e nem se permeia,
por definição,
na cor dos olhos,
pois que na realidade,
os vultos passados,
- horizontes inda em ebulição -
trazem para os meus olhos,
uma aguçada e marcante vermelhidão.
Mas hoje minhas pernas não bestificam o meu andar...
Hoje, o que se faz biltre,
vive em meio aos abutres,
e não consegue, assim como m'alma,
levemente volitar, tendo como parceira,
a brisa calma,
que uma cor abençoada me concebe,
e agora, compreendida a questão,
pelo Pai Imenso,
graciosamente me é concedida,
orgulhosa,frondosa, protegida...
Negro sou.
Negro tu.
Algo que arrasa os racistas,
pois que não alardeio a desgraça.
Pois que não sou masoquista,
e tampouco projeto facista,
do choramingar o que não faz por conquista,
e ao invés de questionar esses "porcos" pseudos-senhores,
vive pedinte a viver de favores.
Ser Negro,
na acepção da palavra,
reside justamente no ato,
no qual brandamente,
desprezamos as bravatas,
e adentramo-nos por mundos somente nossos.
Refúgios,
não refugos.
Negro,
que hoje advinculado,
ao que se faz sagrado,
constrói-se por si...

Luta ainda inglória,
a de constatar essa hedionda estatística,
que nos coloca como reis de forças misticas,
mas que não reproduzem em gráficos,
o número pelo menos aproximado,
dos que tombaram de forma sangrenta e covarde,
pelas inglaterras nobres e podres...
Pelas espanhas sutis e carrascas...
Pelos portugais que hoje nos sorriem,
mas que antes nos decapitavam.
Pobres reis apátridas,
que desconheciam que nossas cabeças,
-sementes que são -
reproduz-se-iam, e multiplicadas,
criariam novas legiões,
que se covarde e sutilmente fossem tombadas,
regenerariam-se em células, refazendo-se de novo,
Força de povo,
nobreza igualada,
pois que sobreviveu,
sem comprar ninguém...
Sem se entregar ao estados "porcos"unidos.
Sem aceitar o rótulo de bandidos.
Os nossos pedaços são gens,
nacos que dão vida,
frutificam e honram a cor...
Negro,
talvez hoje admirado,
amado,
sei lá...
Mas negro, sim senhor..
Muito mais próximo ao conceito do ser humano,
do que ao do preconceito animal...
Muito mais verdadeiro e exposto,
sem se esconder sob máscaras de gestos profanos,
mas colocado e posto.
Disposto.
Mesmo que a contragosto,
- dessa minoria que há muito deixou de ser dominante -
que tentou covardemente impingir à negritude,
uma vida sórdida, insolente, pedante,
de para sempre e sempre,
esmolar...
Negro sim por que não?
Algum problema "irmão"?

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