sexta-feira, 26 de outubro de 2007

O ATEU

Conta um articulista que um farmacêutico se dizia ateu e vangloriava-se de
seu ateísmo. Deus, com certeza, deveria ser uma quimera, uma dessas
fantasias para enganar a pessoas incautas e menos letradas.
Talvez alguns mais desesperados que necessitassem de consolo e esperança.
Um dia, no quase crepúsculo, uma garotinha adentrou sua farmácia. Era loira,
de tranças e trazia um semblante preocupado. Estendeu uma receita médica e
pediu que a preparasse.
O farmacêutico, embora ateu, era homem sensível e emocionou-se ao verificar
o sofrimento daquela pequena, que, enquanto ele se dispunha a preparar a
fórmula, assim se expressava:
Prepare logo, moço, o médico disse que minha mãe precisa com urgência dessa
medicação.
Com habilidade, pois era muito bom em seu ofício, o farmacêutico preparou a
fórmula, recebeu o pagamento e entregou o embrulho para a menina, que saiu
apressada, quase a correr.
Retornou o profissional para as suas prateleiras e preparou-se para
recolocar nos seus lugares os vidros dos quais retirara os ingredientes para
aviar a receita.
É quando se dá conta, estarrecido, que cometera um terrível engano. Em vez
de usar uma certa substância medicamentosa, usara a dosagem de um violento
veneno, capaz de causar a morte a qualquer pessoa.
As pernas bambearam. O coração bateu descompassado. Foi até a rua e olhou.
Nem sinal da pequena. Onde procurá-la? O que fazer?
De repente, como se fosse tomado de uma força misteriosa, o farmacêutico se
indaga:
E se Deus existir...?
Coloca a mão na fronte e roga:
- Deus, se existes, me perdoa. Faze com que aconteça alguma coisa, qualquer
coisa para que ninguém beba daquela droga que preparei. Salva-me, Deus, de
cometer um assassinato involuntário.
Ainda se encontrava em oração, quando alguém aciona a campainha do balcão.
Pálido, preocupado, ele vai atender.
Era a menina das tranças douradas, com os olhos cheios de lágrimas e uns
cacos de vidro na mão.
- Moço, pode preparar de novo, por favor? Tropecei, cai e derrubei o vidro.
Perdi todo o remédio. Pode fazer de novo, pode?
O farmacêutico se reanima. Prepara novamente a fórmula, com todo cuidado e a
entrega, dizendo que não custa nada. Ainda formula votos de saúde para a mãe
da garota.
Desse dia em diante, o farmacêutico reformulou suas idéias. Decidiu ler e
estudar a respeito do que dizia não crer e brincava.
Porque embora a sua descrença, Deus que é Pai de todos, atendeu a sua oração
e lhe estendeu a Sua misericórdia.
***
No desdobramento de nossas experiências acabamos todos reconhecendo a
presença divina. É algo muito forte em nós.
Mesmo entre pessoas consideradas de má vida, e criminosos, encontraremos
vigente o conceito.
"A crença em Deus nos dá segurança, com a certeza de que não estamos
entregues à própria sorte.
É muito bom conceber que, desde sempre, antes mesmo que o conhecêssemos,
Deus já cuidava de nós.

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