quinta-feira, 10 de julho de 2008

CONTIGO MESMO

"... O dever começa precisamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a

tranqüilidade do vosso próximo;

termina no limite que não gostaríeis de ver ultrapassado em relação a vós

mesmos..." (Cap. XVII, item 7.)



Como decifrar o dever? De que maneira observar o dever íntimo impresso na

consciência, diante de tantos deveres sociais, profissionais e afetivos que muitas vezes

nos impõem caminhos divergentes?

Efetivamente, nasceste e cresceste apenas para seres único no mundo. Em lugar algum

existe alguém igual a tua maneira de ser; portanto, não podes perder de vista

essa verdade, para encontrares o dever que te compete diante da vida.

Teu primordial compromisso é contigo mesmo, e tua tarefa mais importante na Terra,

para a qual és o único preparado, é desenvolver tua individualidade no transcorrer

de tua longa jornada evolutiva.

A preocupação com os deveres alheios provoca teu distanciamento das próprias

responsabilidades, pois não concretizas teus ideais nem deixas que os outros cumpram

com suas funções. Não nos referimos aqui à ajuda real, que é sempre importante,

mas à intromissão nas competências do próximo, impedindo-o de adquirir autonomia e

vida própria.

Assumir deveres dos outros é sabotar os relacionamentos que poderiam ser prósperos e

duradouros. Por não compreenderes bem teu interior, é que te comparas aos outros,

esquecendo-te de que nenhum de nós está predestinado a receber, ao mesmo

tempo, os mesmos ensinamentos e a fazer as mesmas coisas, pois existem inúmeras

formas de viver e de evoluir. Lembra-te de que deves importar-te somente com a tua

maneira de ser.

Não podemos nos esquecer de que aquele que se compara com os outros acaba se

sentindo elevado ou rebaixado. Nunca se dá o devido valor e nunca se conhece

verdadeiramente.

Teus empenhos íntimos deverão ser voltados apenas para tua pessoa, e nunca

deverás tentar acomodar pontos de vista diversos, porque, além de te perderes, não

ajustarás os limites onde começa a ameaça à tua felicidade, ou à felicidade do teu

próximo.

Muitos acreditam que seus deveres são corrigir e reprimir as atitudes alheias.

Vivem em constantes flutuações existenciais por não saberem esperar o fluxo da vida

agir naturalmente. Asseveram sempre que suas obrigações são em "nome da

salvação" e, dessa forma, controlam as coisas ou as forçam acontecer, quando e como

querem.

Dizem: -"Fazemos isso porque só estamos tentando ajudar". Forçam eventos, escrevem

roteiros, fazem o que for necessário para garantir que os atores e as cenas tenham

o desempenho e o desenlace que determinaram e acreditam, insistentemente, que seu

dever é salvar almas, não percebendo que só podem salvar a si próprios.

Nosso dever é redescobrir o que é verdadeiro para nós e não esconder nossos

sentimentos de qualquer pessoa ou de nós mesmos, mas sim ter liberdade e segurança

em nossas relações pessoais, para decidirmos seguir na direção que escolhemos. Não

"devemos" ser o que nossos pais ou a sociedade querem nos impor ou definir como

melhor. Precisamos compreender que nossos objetivos e finalidades de vida têm valor

unicamente para nós; os dos outros, particularmente para eles.

Obrigação pode ser conceituada como sendo o que deveríamos fazer para agradar as

pessoas, ou para nos enquadrar no que elas esperam de nós; já o dever é um processo

de auscultar a nós mesmos, descortinando nossa estrada interior, para, logo após,

materializá-la num processo lento e constante.

Ao decifrarmos nosso real dever, uma sensação de auto-realização toma conta de nossa

atmosfera espiritual, e passamos a apreciar os verdadeiros e fundamentais valores da

vida, associados a um prazer inexplicável.

Lembremo-nos da afirmação do espírito Lázaro em "O Evangelho Segundo o

Espiritismo": "O dever é a obrigação moral, diante de si mesmo primeiro, e dos outros em

seguida.(cap. XVII, item 7)

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