quinta-feira, 17 de julho de 2008

O AUXÍLIO DO ALTO

As taxas da faculdade estavam a sua espera. Se Bezerra não lhes satisfizesse o pagamento arriscava-se a perder o ano.

E não era só. O senhorio, sujeito atrevidaço e sem entranhas, ameaçava pô-lo na rua.

Desesperado - uma das poucas vezes em que Bezerra desesperou na vida - e como náo fosse incrédulo, ergueu os olhos ao alto e apelou para Deus.

Nessa ocasião bateram à porta. Era um moço de fisionomia simpática e atitudes polidas, que vinha tratar umas aulas de matemática.

Bezerra recusou, a princípio, confessando mesmo ser esta a matéria que ele mais detestava. O visitante relutou; por fim, lembrando-se de sua situação desesperadora, Bezerra resolveu aceitar.

O moço, sob pretexto de que podia esbanjar a mesada recebida do pai, pediu licença para efetuar o pagamento adiantadamente.

Após alguma relutância, convencido, acedeu. Combinado o dia e a hora para o início das aulas, o visitante despediu-se de Bezerra. Bezerra não cabia em si de contente. Nesse mesmo dia liquidou o aluguel e as taxas de exames na Faculdade.

Lembrou-se, porém, do compromisso e, como não possuísse livro algum sobre a matéria, correu à Biblioteca e, durante horas, devassou com sofreguidão os vários pontos para a próxima aula.

Essa, todavia, não se realizou; nem essa nem outra qualquer, pelo simples motivo de que o discípulo não mais apareceu.

Dias se passaram e... nem viv'alma...

Isso preocupou sobremaneira o jovem estudante que nunca deixou de se referir a tal fato como uma das primeiras manifestações do auxílio que o mundo invisível pode dispensar a qualquer espírito angustioso.

Em todo caso, concluía ele, jovialmente - foi essa a única vez em que estudei a fundo uma lição de matemática; o fato, assim mesmo, para alguma coisa me serviu...

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