quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Um presente inesperado

Choveu toda a noite.

Os carros passando em alta velocidade espalhavam, indiferentes, água sobre as calçadas.

Toninho seguia também naquela onda humana, sem destino.
Tinha fugido da barraca, onde vivia.
Os pais tinham saído cedo para o trabalho. Os irmãos ficaram por lá brincando na lama que rodeava a barraca. Ele desceu à cidade, onde tudo o deslumbrava.

Todo aquele movimento irregular, caótico, frenético.
Os automóveis em correrias loucas, as pessoas apressadas nos seus afazeres.

E lá seguia o pequenino, entre a multidão, numa cidade impávida, indiferente, cruel ...

Passava em frente às pastelarias, olhava para as vitrines recheadas de doçuras, ele comeu de manhã um bocado de pão duro e bebeu um copo de água.

Vinha-lhe o aroma agradável dos bolos, o seu pequeno estômago doía-lhe com fome!

Chovia agora mansamente, uma chuva gelada, levando uma cidade onde se cruzavam a vaidade, o ter tudo, os embrulhos enfeitados, com a dor a melancolia, o sofrimento, o ter nada e no meio uma criança triste e com fome!

Mas Toninho gostava era de ver as lojas dos brinquedos.

Lá estavam os carros de corrida, o comboio, os bonecos, enfim todo um mundo maravilhoso que ele vivia, esborrachando o nariz sujo contra a vitrine.

Lá dentro, grande correria nas compras de Natal.
E os carros de corrida, o comboio, os bonecos eram embrulhados em papeis bonitos para irem fazer a alegria de outros meninos.

Uma lágrima descia, marcando-lhe a carinha.

Eis que os seus olhos reparam num menino, que de lá de dentro o olhava.

Desviou-se envergonhado.
Não gostava que o vissem chorar.
E afastou-se devagar, pensando nos meninos que tinham Natal, guloseimas e carros de corrida para brincar.

Ele nada tinha, além da fome e a ânsia de ser feliz e viver como os outros.

Pensou no Natal, no Menino Jesus, que diziam que era amigo das crianças a quem dá tudo. Por que é que a ele o Jesus Pequenino do presépio nada dava?

Uma mãozinha tocou-lhe no ombro.

Voltou-se assustado.

Era o menino da loja que lhe entregava um embrulho bonito.

Abriu-o e deslumbrado viu um carro de corridas, brilhante, como os olhos do menino que o fitava.

Ficou um momento sem saber o que fazer, mas depois largou a correr, mostrando bem alto o seu presente de Natal.

Parou de chover, o sol tentava romper as nuvens escuras, lançando um raio de luz brilhante e quente sobre Toninho, que ria feliz, numa carinha molhada pelas lágrimas.

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