Quando a morte do corpo terrestre nos conduz à sociedade dos espíritos, muitas vezes somos cercados pelo amor puro, a mergulhar-nos em divino clarão.
Antigos afetos, que o tempo não nos riscou da memória, ressurgem, de improviso, envolvendo-nos na melodia da ventura ideal; amigos, a quem supúnhamos haver servido com algum pequenino gesto beneficente, repontam do dia novo, descerrando-nos os braços; sorrisos espontâneos, por flores de carinho, desabrocham em semblantes nimbados de esplendor.
Quase sempre, contudo, ai de nós!... Reconhecemo-nos no festival da alegria perfeita, à feição de lodo movente, injuriando o carro solar. Quanto mais a bondade fulgura em torno, mais nos oprime o peso da frustração.
Temos o peito, qual violino de barro, que não consegue responder ao arco de estrelas que nos tange as cordas desafinadas, e, do coração, semelhante a címbalo morto, a penas arrancamos lágrimas de profundo arrependimento para chorar.
Lamentamos então as lutas recusadas e as oportunidades perdidas! Deploramos a passada rebeldia, ante os apelos do bem que nos teriam conquistado merecimento, e a fuga deliberada aos testemunhos de humildade que nos haveriam propiciado renovação.
Sentimo-nos amparados por indizíveis exaltações de claridade e ternura; no entanto, por dentro, carregamos ainda remorso e necessidade.
É assim que nos excluímos, por nós mesmos, da assembléia gloriosa, suplicando o retorno às arenas do mundo, até que a reencarnação nos purifique, nas aquisições de experiência e valor.
Alma que choras na teia física, louva o tronco de sofrimento a que te encontras temporariamente agrilhoada na Terra!
Abençoa os espinhos que te laceram.
Abençoa o pranto que te lava os escaninhos do ser.
Executa com paciência o trabalho que a vida te pede, porque, um dia, os companheiros amados que te precederam na vanguarda de luz estarão contigo, em preces de triunfo, a desatarem-te as últimas algemas, de modo a que lhes partilhes os cânticos de vitória, na grande libertação.
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
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