quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

COMO OS CAMPOS

Preparavam-se aqueles jovens estudiosos para a vida adulta, acompanhando um sábio e ouvindo seus ensinamentos.

Porém, como fizesse cada dia mais frio com o adiantar-se do outono, dele se aproximaram e perguntaram:- Senhor, como devemos vestir-nos ?

- Vistam-se como os campos - respondeu o sábio.

Os jovens então subiram a uma colina e durante dias olharam para os campos.

Depois dirigiram-se à cidade, onde compraram tecidos de muitas cores e fios de muitas fibras.

Levando cestas carregadas, voltaram para junto do sábio.

Sob o seu olhar abriram os rolos de sedas,desdobraram as peças de damasco, e cortaram quadrados de veludo, e os emendaram com retângulos de cetim.

Aos poucos, foram recriando em longas vestes os campos arados, o vivo verde dos campos em primavera, o pintalgado da germinação.

E entremearam fios de ouro no amarelo dos trigais, fios de prata no alagado das chuvas, até chegarem ao branco brilhante da neve.

As vestes suntuosas estendiam-se como mantos.

O sábio nada disse.

Só um jovem pequenino não havia feito sua roupa.

Esperava que o algodão estivesse em flor, para colhê-lo.

E quando teve os tufos, os fiou.

E quando teve os fios, os teceu.

Depois vestiu a sua roupa branca e foi para o campo trabalhar.

Arou e plantou.

Muitas e muitas vezes sujou-se de terra.

E manchou-se do sumo das frutas e da seiva das plantas.

A roupa já não era branca, embora ele a lavasse no regato.

Plantou e colheu.

A roupa rasgou-se, o tecido puiu-se.

O jovem pequenino emendou os rasgões com fios de lã, costurou remendos onde o pano cedia.

E quando a neve veio, prendeu em sua roupa mangas mais grossas para se aquecer.

Agora a roupa do jovem pequeno era de tantos pedaços, que ninguém poderia dizer como havia começado.

E estando ele lá fora uma manhã, com os pés afundados na terra para receber a primavera, um pássaro o confundiu com o campo e veio pousar no seu ombro.

Ciscou de leve por entre os fios, sacudiu as penas.

Depois levantou a cabeça e começou a cantar.

Ao longe, o sábio que tudo olhava ... sorriu.

Sem comentários: