Certo dia, no começo do verão, eu ia passando por uma linda campina. A relva aveludada parecia um imenso tapete oriental. Em um canto, erguia-se uma bela árvore, já velha, abrigo de inúmeros pássaros que enchiam de gorgeios o ar leve e revigorante. À sombra da ramagem, duas vacas repousavam, imagem de sossego e contentamento.
Ao longo da estrada misturavam-se o roxo e o dourado das violetas silvestres e dentes-de-leão.
Parei, e fiquei ali por um longo tempo, encostado à cerca, deixando que meus olhos famintos se banqueteassem. Pensei comigo mesmo que Deus jamais havia feito um lugar tão aprazível.
No dia seguinte passei por lá outra vez. Ah! A mão demolidora já havia estado ali. Lá estava um arado, cravado ainda no sulco. Em um dia um homem fizera no local uma terrível devastação. Em vez da relva verde, estava à mostra a terra escura, feia e nua; em vez de pássaros cantando, algumas galinhas ciscavam. E nem violetas, nem dentes-de-leão. E com pesar, pensei: "Como poderia alguém estragar uma coisa tão linda?!"
Então meus olhos foram abertos como por mão invisível e tive uma visão: vi um milharal, com as espigas maduras, prontas para a colheita. Via os longos pés de milho, todos carregados, iluminados pelo sol do outono. Quase me parecia ouvir a música do vento, ao passar, agitando os cabelos das espigas. E de repente, a terra escura revestiu-se, para mim, de um esplendor que não possuía na véspera.
Possamos nós sempre ter a visão da abundante colheita que se segue quando o Grande Agricultor vem - como faz tantas vezes - e sulca as nossas almas, deixando diante de nosso olhar torturado só o vazio sem beleza.
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