quarta-feira, 14 de novembro de 2007

OS SEGREDOS DO ZEN

Um poeta influenciado por Confúncio aproximou-se certa vez do mestre zen Hui-t’ang para perguntar o segredo do seu ensinamento. Respondendo, o mestre citou uma das frases de Confúncio: "Pensais que estou escondendo alguma coisa, ‘ó meu discípulo? Na verdade, nada tenho para esconder." Devido ao fato de Hui-t’ang não permitir que lhe fizessem novas perguntas, o poeta foi embora profundamente confuso, mas pouco tempo depois os dois foram caminhar juntos na montanha. Quando passavam por uma moita de loureiros selvagens, o mestre voltou-se para seu companheiro e perguntou: "Sentes o cheiro de louro?" À resposta afirmativa, ele observou: "Então, nada tenho a esconder de ti!" Imediatamente, o poeta iluminou-se. Pois é realmente um paradoxo falar a respeito do segredo do Zen e, a despeito de todas as aparentemente incompreensíveis ou ridículas respostas dos mestres zen aos insistentes interrogatórios de seus discípulos, nada está sendo ocultado de nós.

A verdade é que o Zen é tão difícil de compreender porque é tão óbvio, e o perdemos repetidas vezes porque estamos procurando algo obscuro; com os olhos focalizados no horizonte, não vemos o que está a nossos pés. Nas palavras da "Canção de Meditação", de Hakuin:


Todos os seres são Budas desde o início;
É como o gelo e a água;
Sem água, não existe gelo,
Seres sensíveis exteriores, onde buscamos o Buda?
Não sabendo quão perto está a Verdade,
As pessoas a buscam em lugares distantes ...
Elas são como aquele que no meio da água,
Sedento, grita implorando por ela.
O homem é inúmeras vezes orgulhoso demais para examinar as coisas evidentes que estão bem perto dele. O Zen encontrou os seguidores do Mahayana procurando a verdade nas escrituras, em homens santos e em Budas, crendo que eles a revelariam, caso vivessem uma vida pura. Uma vez que a aparente humildade humana que julga que a sabedoria é algo sublime demais para revelar-se nas coisas comuns desta vida é uma forma sutil de orgulho, intimamente o homem sente que deverá ser tão grande a ponto de retirar-se das coisas do mundo antes que possa receber a verdade; e, em seu orgulho, pensa que só poderá recebê-la dos lábios dos sábios ou das páginas das escrituras sagradas. Ele não a vê nos seres humanos ou nos incidentes da vida diária. Não a vê em si mesmo, pois novamente é muito orgulhoso para se ver tal como é. Ao buscar essa verdade, ele oculta as imperfeições sob suas "ações meritórias" e aproxima-se dos Budas por trás de uma máscara.

No Zen, essa cuidadosa autopreparação para encontrar a verdade no futuro ou em alguma fonte exterior coloca de lado a circunstância de ver os fatos como eles são no momento, sejam eles bons ou maus. Pois nenhum Buda poderá revelar a verdade para quem não puder vê-la em si mesmo, e aquele que puder vê-la no momento presente não pode esperar que ela lhe seja mostrada no futuro. Assim, o Zen ensina que ninguém poderia encontrar o Buda num Paraíso, ou em qualquer reino celestial, até que primeiramente o tenha encontrado em si mesmo, e nos outros seres sensíveis, e ninguém poderá esperar encontrar a iluminação num eremitério, a não ser que pudesse encontrá-la na vida do mundo. O primeiro princípio do Mahayana é o de que todas as coisas, mesmo que sejam vis na superfície e aparentemente insignificantes, são aspectos da natureza búdica, e isso significa que cada ser ou coisa tem de ser aceita; nada pode ser excluído da "Terra do Lótus da Pureza" como sendo "mundano", "trivial" ou "baixo". Como Thomas Kempis escreveu na Imitação de Cristo: "Se teu coração estiver correto, então cada criatura será um espelho da vida, e um livro da santa doutrina. Não há criatura tão pequena e abjeta, pois todas refletem a bondade de Deus". À questão "O que é iluminação?", um mestre zen respondeu: "Os seus pensamentos cotidianos". Mestre Pai-chang disse que o Zen simplesmente é: "Comer quando tens fome, dormir quando estás cansado".

Lin-chi declarou, "o verdadeiro homem religioso nada tem a fazer a não ser seguir vivendo diante das várias circunstancias desta existência mundana: se levanta calmamente pela manhã, veste as roupas e vai trabalhar. Quando deseja caminhar, caminha; quando quer se sentar, senta-se. Não está perseguindo o Budado, nem possui o mais remoto pensamento a esse respeito." Como isso é possível? Um sábio antigo diz: "Se te esforças pelo Budado através de qualquer recurso consciente, o teu Buda é na verdade a fonte do teu eterno renascimento."

1 comentário:

RH disse...

Parabéns pelo blog.
Sugiro a leitura do seguinte texto

http://dr-hugo-jorge.blogspot.com/2007/11/porqu-meditar.html

Hugo Jorge
http://dr-hugo-jorge.blogspot.com