Hoje, novamente acordei cedo, para terminar um trabalho, que já está interminável. Escova daqui, lava dali e, cinco horas já esta no computador trabalhando. O dia foi clareando e, num piscar de olhos (devo ter demorado com os olhos fechados) já eram 6 horas. Coloquei o café na máquina para que ela fizesse a química da transformação para mim, enquanto ia à padaria comprar o pão.
Lembrei que fazem muitos anos repito a mesma ação.
Olhando ao meu redor, apesar de muito cedo, vi várias pessoas idosas indo comprar o pão, alguns mais jovens em torno dos quarenta, dando sua corridinha matinal. As senhoras puxadas pelos seus cães lá vão com o braço esticado falando qualquer coisa entre dentes com seus companheiros de caminhada.
Já na porta da padaria, que tem um “cachorródromo”, tinha uma vizinha amarrando seu cão num dos ganchos para prender a coleira (coisa de Velho Oeste) e dizia para o cão: Arlindo, não puxa tanto a mamãe, ela já não agüenta com você. Se o cachorro entendia ou não é coisa para outra crônica. Aliás, quando uma pessoa começa a chamar o cachorro de meu filho ou se intitular mãe dele, já é sinal que a solidão está rondando.
E novamente voltei ao passado e lembrei que quando era criança a padaria em que comprava pão, lá no velho Bairro do Estácio, havia muita criança só tinha velhos atrás do balcão.
O velho ditado “Deus ajuda a quem cedo madruga” já caiu por terra para a juventude de hoje. E me ficou uma dúvida. Os velhos de antigamente eram mais preguiçosos do que os velhos de hoje? Ou as crianças de antigamente eram mais sadias ou mais colaboradoras?
Comprei meus 6 pães branquinhos e vim para casa, onde já havia acontecido a alquimia da água, o calor e o pó.
Como de costume, coloquei o café na caneca, passei manteiga no pão, e fui para a janela da sala ver a paisagem, restrita por prédios, mas que ainda permitem pequenas nesgas por onde olho o céu e algumas montanhas ainda com verde.
E comecei a prestar a atenção nas pessoas que passavam lá em baixo carregando seus sacos com pães.
Foi aí que percebi, que quanto maior o saco de pães mais rápido as pessoas andavam; mais empertigadas elas se portavam. Talvez mais importantes elas se sentissem. Mais gente em casa, mais companhia. Família.
A mais imponente que passou e até cantarolava enquanto andava, levava um saco que deveria caber uns dez pães.
Já estava quase acabando o meu café ”janelístico” quando vi um senhor magrinho que andava quase que pé ante pé, a cabeça branca bem baixa, e parei meu último gole para vê-lo passar. Não via seu rosto, mas seu corpo expressava o cansaço, talvez da idade, e uma tristeza infinita.
Em sua mão havia um saco pequeno com apenas um pão.
E pensei, como será o seu Natal?
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