quinta-feira, 3 de julho de 2008

DEUS - 2

1. “Entendo por ideia um conceito necessário da razão ao qual não pode ser
dado nos sentidos um objeto que lhe corresponda. Os conceitos puros da
razão, que agora estamos a considerar, são pois ideias transcendentais. São
conceitos da razão pura, porque consideram todo o conhecimento de
experiência determinado por uma totalidade absoluta de condições. Não são
forjados arbitrariamente, são dados pela própria natureza da razão, pelo que
se relacionam, necessariamente, com o uso total do entendimento. Por último
são transcendentes e ultrapassam os limites de toda a experiência, na qual,
por conseguinte, nunca pode surgir um objecto adequado à ideia
transcendental. […] Embora tenhamos de dizer dos conceitos transcendentais
da razão que são apenas ideias, nem por isso os devemos considerar
supérfluos e vãos. Pois ainda, quando nenhum objecto possa por eles ser
determinado, podem, contudo, no fundo e sem ser notados, servir ao
entendimento de cânone que lhe permite estender o seu uso e torná-lo
homogêneo; por meio deles o conhecimento não conhece, é certo, nenhum
objeto, além dos que conheceria por meio dos seus próprios conceitos, mas
será melhor dirigido e irá mais longe neste conhecimento. Sem falar de que
podem, porventura, esses conceitos transcendentais da razão estabelecer uma
transição entre os conceitos da natureza e os conceitos práticos e assim
proporcionar consistência às ideias morais e um vínculo com os conhecimentos
especulativos da razão. […] Ora, tomada na sua universalidade, toda a
relação que as nossas representações podem possuir consiste: 1. na relação
com o sujeito; 2. na relação com objectos, quer sejam fenómenos quer
objectos do pensamento em geral. […] Ora, todos os conceitos puros em geral
têm que ver com a unidade sintética das representações, mas os conceitos da
razão pura (as ideias transcendentais) referem-se à unidade sintética
incondicionada de todas as condições em geral. Por conseguinte, todas as
ideias transcendentais podem reduzir-se a três classes das quais a primeira
contém a unidade absoluta (incondicionada) do sujeito pensante, a segunda, a
unidade absoluta da série das condições do fenómeno e a terceira, a unidade
absoluta da condição de todos os objectos do pensamento em geral. O sujeito
pensante é objecto da psicologia; o conjunto de todos os fenómenos (o mundo)
é objecto da cosmologia, e a coisa que contém a condição suprema de
possibilidade de tudo o que pode ser pensado (o ente de todos os entes) é
objecto da teologia. Assim, pois, a razão pura fornece a ideia para uma
doutrina transcendental da alma (psychologia rationalis), para uma ciência
transcendental do mundo (cosmologia rationalis) e, por fim, para um
conhecimento transcendental de Deus (theologia transcendentalis). O simples
esboço de uma ou outra destas ciências não compete ao entendimento, mesmo
que estivesse ligado ao mais alto uso lógico da razão […] Não é possível
qualquer conceito do entendimento de um objecto que seja adequado à
exigência da razão, isto é, um conceito que possa ser mostrado e que seja
susceptível de se tornar objecto de uma intuição numa experiência possível.”
(Kant, K.r.V. B 383-396).

2. “Até aqui falámos como simples físicos; agora é preciso elevarmo-nos à
Metafísica, servindo-nos do princípio fundamental [Grand principe], pouco
empregue comummente, que nos diz que nada se faz sem razão suficiente, isto
é, que nada acontece sem que seja possível àquele que conhece
suficientemente as coisas dar uma Razão que seja suficiente para determinar
por que é que é assim e não de outro modo. Posto este princípio, a primeira
questão que se deve colocar é a seguinte: Por que razão há algo em vez do
nada? Pois o nada é mais simples e mais fácil do que qualquer coisa.”
(Leibniz, Principes de la Nature et de la Grâce fondés en raison, & 7).

O deus que habita em mim, saúda o deus que habita em você.

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