segunda-feira, 7 de julho de 2008

A DOR E SUAS BÊNÇÃOS

No universo o caos é a presença da vida em ebulição, em desenvolvimento.
O repouso, se houvesse, significaria o aniquilamento da ordem, do equilíbrio.

Tudo se agita, desde as micropartículas às galáxias em incessante movimentação.

Sucumbe um astro pela decadência da energia e surge outro pela aglutinação de novas moléculas.

Só há vida em toda parte e, portanto, ação.

É natural que, no ser humano, esse processo se expresse como desgaste que produz dor.



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O pântano e as águas estagnadas experimentam rigorosa drenagem, a fim de se transformarem em jardim e pomar.

O deserto sente a modificação da sua estrutura, mediante elementos químicos, de modo a reverdecer e coroar-se de flores.

A semente sofre o esmagamento e arrebenta-se em vida exuberante.

Nos animais, o parto é violência orgânica dolorosa, que liberta a vida que conduzia encarcerada.

Compreensível, desse modo, que o desabrochar da perfeição comece pelo despedaçar do grotesco em predominância no ser humano.

Erros que geraram calamitosos efeitos a reparar, desafios que promovem à conquista de mais elevados patamares se apresentam com freqüência.

São inevitáveis as ocorrências depuradoras, os sofrimentos de sublimação.

A dor é mensagem da vida cantando o hino de exaltação e glória à evolução.

Recebê-la com tranqüilidade constitui admirável realização íntima da lucidez intelecto-moral do ser humano.


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Pressões, compressões, dilacerações constituem mecanismos da vida que se liberta do cárcere temporário para a exuberância da plenitude.

Compreender a função da dor é atitude solidária, caminhando-lhe ao lado, ao invés de enfrentá-la com a extravagância da derrota.

Entendida no seu significado profundo, torna-se amena e disciplinadora de impulsos graves quão danosos que persistem, dominadores.

Em razão disso, a atitude passiva, o pensamento de aceitação e entendimento contribuem para torná-la produtiva, enriquecedora.

Diante da transitoriedade do carro orgânico a que o Espírito se atrela, eis que o desgaste e a decomposição fazem parte dos fatores de destruição da aparência, para que o ser eterno singre os rios incomparáveis da imortalidade.

Sem a histólise, que precede à histogênese demorada, a lagarta jamais flutuaria no ar como borboleta delicada.

As condições físicas, portanto, são uma permanente transformação e a dor representa as mãos do Divino Escultor trabalhando em formas novas, aprimorando arestas e corrigindo anfractuosidades...

Alegra-te, por haveres sido contemplado pela dor, por mais paradoxal que te pareça.

Bem-aventurado aquele que sofre em paz, quando outros, desassisados, em tranqüilidade infelicitam vidas...

Mantém-te confiante, mesmo sofrendo, e transforma as tuas ansiedades em gratidão a Deus, por haver estabelecido diretrizes diferentes das tuas, que te farão realmente feliz para sempre.

Deixa-te, pois, arrastar pelas mãos do sofrimento digno, e converterás lágrimas em sorrisos, tristezas em júbilos, frustrações em pacificação interna, arrimado em Jesus, que nunca te abandonará.


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Dor bendita, que liberta e sublima, louvada sejas!

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