sábado, 12 de julho de 2008

ENTRE SEM BATER

Deixe entrar sem bater, meu caro amigo, os homens que morrem de frio, mais por falta de amor do que por falta de roupas...
Deixe entrar sem bater os que perderam o rumo nos trilhos complicados da existência; talvez achem no céu do seu abraço a estrela de Belém...
Deixe entrar sem bater os que tem fome, mais de carinho do que de pão, e reparta com eles o seu carinho que vale mais... do que o seu dinheiro...
Deixe entrar sem bater os que chegam a pé empoeirados e cansados porque a passagem do destino era cara demais e ninguém lhes pagou nem sequer um bilhete de terceira classe no trem da felicidade...
Deixe entrar sem bater os que nasceram a contragosto porque a pílula falhou... e só foram recebidos porque não havia outro jeito...
Deixe entrar sem bater os enjeitados no princípio: filhos de mães solteiras, os filhos do prazer criminoso e egoísta.
Deixe entrar sem bater os enjeitados no fim: os velhos e velhinhas, que deram tudo de si, que perderam as pétalas da vida em benefício dos outros, seus filhos, e agora são deixados para murchar nos fundos dos asilos...
Deixe entrar como se fossem deles, aqueles que não tiveram tempo de ser criança, porque a vida lhes pôs uma enxada nas mãos quando devia por nelas algum brinquedo... os que nunca tiveram sorrisos em seus lábios porque a lágrima chegava sempre primeiro...
Deixe entrar sem bater todos estes, sem temer que falte espaço, porque num coração com amor sempre cabe mais um e até mais mil...
E depois que tiver a sala do peito lotada de infelizes, aleijados e famintos, você vai ter, amigo, a maior das surpresas, ao ver que a face torturada de tantos se transforma, de repente, no rosto iluminado e sorridente do Mestre Jesus, falando só para você: - 'Meu caro amigo, agora é a sua vez: entre você também.'
Pode entrar sem bater, a casa é sua".

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