quinta-feira, 10 de julho de 2008

A INDULGÊNCIA

A indulgência é esse sentimento doce e fraternal que
todo homem deve alimentar para com seus irmãos,
mas do qual bem poucos fazem uso.
A indulgência não vê os defeitos de outrem, ou,
se os vê, evita falar deles, divulgá-los.
Ao contrário, oculta-os, a fim de que se não
tornem conhecidos senão dela unicamente.
E, se a malevolência os descobre, tem sempre
pronta uma escusa para eles, escusa plausível,
séria, não das que, com aparência de atenuar
a falta, mais a evidenciam com pérfida intenção.
A indulgência jamais se ocupa com os maus atos
de outrem, a menos que seja para prestar
um serviço.
Mas, mesmo neste caso, tem o cuidado de os
atenuar tanto quanto possível.
Não faz observações chocantes, não tem
nos lábios censuras.
Apenas conselhos e, as mais das vezes, velados.
Ao fazer uma crítica qualquer, ela sempre irá
pensar antes: que conseqüência se há de
tirar destas palavras?
Homens!
Quando será que julgareis os vossos próprios
corações, os vossos próprios atos, sem vos
ocupardes com o que fazem vossos irmãos?
Quando só tereis olhares severos sobre vós mesmos?
Sede severos para convosco, indulgentes para
com os outros.
Lembrai-vos de que, talvez, tenhais cometido
faltas mais graves.
Sede indulgentes, meus amigos, porquanto a
indulgência atrai, acalma, ergue, ao passo
que o rigor desanima, afasta e irrita.
Eis mais uma virtude fundamental para aqueles
de nós que desejamos viver a Nova Era,
a era do bem.
A indulgência não se entende por conivência
com a coisa errada, de forma alguma, mas,
de uma forma benevolente,
de tratar a alma equivocada.
Nossa severidade excessiva com os outros
pouco resolve.
E, pelo contrário, esta ferocidade em nosso
julgamento só nos tem trazido prejuízos morais.
Quase sempre nossa crítica, nossa condenação,
não visa o bem do outro, mas sim uma satisfação desequilibrada em simplesmente falar mal,
ou condenar.
Mecanismo psicológico de projeção, muitas
vezes nos mostra no outro aquilo que
detestamos em nós, e como
fuga desastrosa, ao acusar, imaginamos
que podemos nos livrar do mal intrínseco
à nossa alma enferma.
Acusar por acusar nunca nos trará o bem
que desejamos, a paz que anelamos tanto.
A maledicência é provocadora de prazer mórbido
que atesta deficiência de caráter humano.
Sejamos assim, indulgentes, da mesma forma que
o Criador o é sempre conosco, vendo o que temos
de bom, e sempre nos dando novas chances de
acertar após nossos erros.
Reforçar o erro de outrem é valorizar o negativo.
É dar-lhe um destaque maior do que o necessário.
A indulgência é caridade, é compreensão e perdão.
O verdadeiro caráter da caridade é a modéstia e
a humildade, que consistem em ver cada um
apenas superficialmente os defeitos de outrem,
e esforçar-se por fazer que prevaleça o que
nele há de bom e virtuoso.
Embora o coração humano seja um abismo de
corrupção, sempre há, nalgumas de suas dobras
mais ocultas, o gérmen de bons sentimentos,
centelha vivaz da essência espiritual.

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